Com proposta de emprego, Cravinhos pede progressão para regime aberto
Cristian Cravinhos, preso pelo assassinato dos Richthofen, apresentou proposta de emprego na Justiça e pediu ida para o regime aberto
atualizado
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São Paulo – Preso na Penitenciária de Tremembé, Cristian Cravinhos, de 49 anos, pediu à Justiça para cumprir o restante da pena em regime aberto. O pedido inclui uma declaração de proposta de emprego para trabalhar como ajudante geral em uma gráfica na zona sul de São Paulo, em horário comercial, de segunda a sexta. Para ocupar a vaga, no entanto, ele precisa progredir do regime semiaberto, que cumpre atualmente.
Cravinhos enfrenta uma condenação de 38 anos de prisão pelo envolvimento nas mortes de Manfred e Marísia von Richthofen, em 2002. Daniel, irmão de Cristian, e Suzane von Richthofen, filha do casal, também foram condenados pelo crime. Os dois cumprem pena em regime aberto.
Cristian conseguiu direito ao mesmo benefício em 2017, mas voltou ao regime fechado no ano seguinte por corrupção ativa. Ele estava fora de casa e em horário irregular quando foi capturado por policiais. O réu ofereceu R$ 1 mil aos agentes para evitar ser levado à delegacia. A tentativa de suborno resultou em seu retorno imediato para a penitenciária e no acréscimo de mais quatro anos em sua pena, totalizando 42 anos de reclusão.
Pedido de progressão de regime
No pedido, protocolado em 14 de fevereiro, os advogados Maieli Luna Rodrigues e Renato Moreira da Silva apontaram que Cristian cumpriu, em setembro de 2023, o período necessário de reclusão para progressão de regime. Além disso, ele “ostenta bom comportamento carcerário”.
Conforme a defesa, há mais de um ano, Cravinhos pede para progredir ao regime mais brando, continuando preso. “A demora na apreciação do pedido acarreta danos irreparáveis à vida do encarcerado. É dever do Estado julgar e processar o processo dentro de um prazo razoável”, alegaram os advogados.
Em pedidos anteriores, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) se opôs, solicitando realização de exame criminológico e de teste de Rorschach, técnica de avaliação psicológica que se baseia na análise de imagens.
Testes psicológicos
O exame criminológico se mostrou favorável à ida de Cravinhos para o regime aberto. A análise foi complementada pelo Teste Projetivo de Rorschach, que também foi favorável à progressão de regime.
O teste de Rorschach apontou rigidez emocional e controle excessivo. Ele também teria “dificuldade em compreender e integrar suas emoções de maneira objetiva, resultando em reações que são frequentemente influenciadas por fantasias e ideias pouco realistas”.
A psicóloga que assinou o teste afirmou também que Cravinhos tem “dificuldades em compreender e expressar os afetos de maneira madura e adaptativa”, bem como “mecanismos empáticos deficitários, que comprometem sua capacidade de reconhecer e responder de forma apropriada às emoções e necessidades dos outros”.
O teste apontou ainda “instabilidade emocional e dificuldades de integração entre os aspectos intelectuais e afetivos”. Segundo a especialista responsável, “essas limitações interferem negativamente na qualidade de suas interações e na adaptação às demandas do cotidiano”.
Apesar desses apontamentos, Cristian estaria apto para progredir ao regime aberto, contanto que mantenha acompanhamento psicológico regular.
Posicionamento do MP
O pedido feito pela defesa de Cristian Cravinhos é o último andamento em seu processo de execução penal. O requerimento ainda deve ar por análise do MPSP e por apreciação da Justiça.
Antes desse requerimento, o promotor Gustavo José Pedroza Silva se mostrou contra o relaxamento da pena de Cravinhos. Para ele, “o teste de Rorschach ofereceu algumas dúvidas sobre a questão, impondo sérias reflexões”.
Conforme o promotor, Cristian “apresenta traços de imaturidade, percepção da realidade voltada para questões pessoais, a partir de sua própria perspectiva do mundo, sem compreender e levar em consideração a experiência do outro (sinal de falta de empatia), além de propensão a concretizar impulsos reprimidos e tomar medidas irrefletidas e descontroladas”.
Segundo Pedroza, tais características condizem com os crimes pelos quais Cristian foi condenado e também permitem concluir que ele precisa de “melhorias no âmbito interno para que possa retornar ao seio da sociedade”.
Contatada pela reportagem, a defesa de Cravinhos informou que “o pedido de progressão ao regime aberto está fundamentado no cumprimento de todos os requisitos exigidos pela lei, para a sua concessão”. No presente momento, o pedido se encontra aguardando decisão judicial, reforçaram os advogados.
Paternidade anulada na Justiça
Recentemente, Cristian teve outro revés da Justiça. A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu, na última terça-feira (18/2), pela anulação de paternidade de um filho de Cravinhos, que tinha três anos na época do assassinato dos Richthofen.
O rapaz havia entrado com processo e conseguido anular a paternidade na Justiça do Paraná, mas Cristian recorreu ao STJ. A decisão foi unânime.