Jovem que acusa PMs de estupro em viatura mandou 12 áudios à mãe. Ouça
Soldado e cabo do 24º Batalhão de Diadema, na Grande SP, seguem presos após jovem de 20 anos denunciá-los por estupro em viatura
atualizado
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São Paulo – A jovem que afirma ter sido estuprada por dois policiais militares em uma viatura, após ambos oferecerem uma carona para a vítima no domingo (2/3) em Diadema, Grande São Paulo, enviou ao menos 12 áudios para familiares, depois de sofrer o suposto abuso sexual, como afirmado pela mãe dela.
O Metrópoles teve o exclusivo a dois dos registros, nos quais é possível ouvir a moça indignada dialogando com os PMs do 24º Batalhão de Diadema (ouça abaixo). Todos os registros encaminhados pela jovem foram anexados como prova em dois inquéritos que investigam o caso — um instaurado pela Polícia Civil e, outro, pela Corregedoria da Polícia Militar.
O soldado Leo Felipe Aquino da Silva e o cabo James Santana Gomes estão presos por tempo indeterminado, desde a segunda-feira (3/3), no Presídio Militar Romão Gomes, na zona norte paulistana. A defesa deles negou as acusações e afirmou, em nota, que ambos irão dar as versões do caso no decorrer do processo.
Desmentidos
Em um vídeo, divulgado em primeira mão pelo Metrópoles, os policiais afirmam desconhecer o endereço da vítima, enquanto circulam com ela em um bairro não identificado. Um dos áudios, porém, desmente os policiais.
No vídeo em que o cabo e o soldado fingem desconhecimento, um deles diz: “tamo [sic] tentando te ajudar e tamo perdido […] moça eu não conheço o caminho da sua casa”.
A afirmação dos PMs revolta da vítima. Aos gritos, ela afirma que eles estão mentindo. Já em um dos áudios obtido pela reportagem é possível ouvir os policiais dialogando com a jovem, que lhes informa o nome da rua onde mora. Além disso, ela reforça o fato de os PMs estarem supostamente consumindo bebidas alcoólicas.
“Eu tirei foto, eu tirei foto. Vocês não estão bebendo dentro da viatura?”, diz a vítima.
Ela começou a compartilhar os vídeos e áudios, para a família, logo após o suposto abuso sexual. A última mensagem enviada pela jovem ocorreu por volta das 22h do dia 2/3. Os PMs teriam roubado o celular dela, para sumir com eventuais provas que a vítima não teve tempo de compartilhar, afirmou a mãe da jovem. Depois disso, os policiais a abandonaram na Rodovia Anchieta, descalça e machucada, levando, além do celular, a bolsa da moça.
A jovem contou ainda que precisou entrar na frente de carros, que trafegavam em alta velocidade pela rodovia, até conseguir ser levada até o 26º DP (Sacomã), já na capital paulista. A vítima chegou abalada à delegacia. Policiais civis de plantão acionaram uma ambulância, que a levou até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Liberdade, no centro paulistano, onde foi encontrada pelos familiares e detalhou o suposto abuso sexual.
Ouça 2 áudios enviados pela vítima
Rua escura e deserta
A mãe da vítima afirmou, em entrevista ao Metrópoles, que os policias teriam obrigado a filha a fazer sexo de várias formas com ambos, no banco traseiro do carro policial, que foi estacionado em uma rua escura e deserta. Antes disso, a vítima acreditava que os policiais estavam a levando para casa, na capital paulista. Ela aceitou a carona oferecida por ambos, em Diadema, para onde foi acompanhando um amigo com o qual estava em um bloco carnavalesco, em São Paulo.
“Minha filha ficou transtornada, falando que queria ir para casa e que eles tinham abusado dela. Recebi mais de 12 áudios dela. Tentei entrar em contato com os PMs [telefonando para a filha]. Um deles pegou o aparelho e não me respondeu. Foi uma sessão de terror”, afirmou a mãe da jovem à reportagem.
Análise de câmeras
A Polícia Militar, por meio da Secretaria da Segurança Pública (SSP), afirmou em nota que a denúncia de estupro é apurada “rigorosamente” e que “todas as circunstâncias dos fatos são apuradas, inclusive com a análise das câmeras corporais [dos PMs]”.
A pasta e a corporação foram questionadas pelo Metrópoles sobre o suposto consumo de álcool, feito pelos PMs em serviço, além de informações se as câmeras corporais estavam operantes durante todo o período em que eles ficaram com a vítima. Uma entrevista com um porta-voz da Corregedoria da PM também foi solicitada.
Nenhum posicionamento sobre esses questionamentos foi encaminhado até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto.