Farra do INSS: Nelson Wilians cita honorários adiantados por alvo da PF
Advogado Nelson Wilians aparece em relatórios do Coaf anexados a inquérito da PF contra fraudes no INSS por operações financeiras suspeitas
atualizado
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Citado em movimentações financeiras suspeitas no inquérito da Polícia Federal (PF) que investiga o esquema bilionário de fraudes contra aposentados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o advogado Nelson Wilians disse a interlocutores que as transações feitas com o empresário Maurício Camisotti, um dos principais alvos da investigação, superam os R$ 15 milhões que já vieram à tona.
Segundo o relato dele, a PF pode ter encontrado, no material apreendido com Camisotti, suspeito de ser “beneficiário final” dos descontos indevidos praticados por três entidades da farra do INSS, documentos que demonstram operações financeiras ainda maiores entre os dois. Questionado sobre o que seriam, Nelson Wilians disse se tratar de antecipação de honorários advocatícios — prática considerada incomum.
O escândalo do INSS foi revelado pelo Metrópoles em uma série de reportagens, publicadas a partir de dezembro de 2024, que levaram à abertura de inquérito pela PF e abasteceram as apurações da Controladoria-Geral da União (CGU). Após a Operação Sem Desconto, no dia 23 de abril, o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, foi demitido, e o ministro da Previdência, Carlos Lupi, entregou o cargo.
Antes de ser advogado da Ambec, uma das entidades ligadas ao empresário envolvidas nas fraudes no INSS, Nelson Wilians defendia a Prevident, que pertence a Camisotti, em uma ação contra a rescisão unilateral de um contrato milionário com o Geap, plano de saúde dos servidores públicos federais comandado por dirigentes indicados pelo PP.
O advogado também atuava no Geap e teve seu contrato rescindido no mesmo período, em 2019, no governo Jair Bolsonaro (PL) — ambos foram rompidos sob o argumento de que davam prejuízos. Desde então, batalhas judiciais entre o plano de saúde dos servidores, Camisotti e Wilians se arrastam no Judiciário de Brasília.
Operações suspeitas de Nelson Wilians
- Como mostrou o Metrópoles na terça-feira (27/5), Nelson Wilians caiu na malha fina do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) por movimentações financeiras atípicas, incluindo as transações com Maurício Camisotti.
- Segundo o Coaf, o escritório Nelson Wilians Advogados movimentou R$ 4,3 bilhões em operações consideradas suspeitas, entre 2019 e 2024.
- Somente entre outubro de 2023 e julho de 2024, período que compreende o auge da farra do INSS, a banca dele recebeu R$ 449 milhões em duas contas bancárias.
- Os relatórios do Coaf foram enviados à PF no âmbito da Operação Sem Desconto, deflagrada em abril. Segundo o relatório, o advogado pagou R$ 15,5 milhões a Camisotti.
- O empresário era cliente de Nelson Wilians, que comprou um imóvel de Camisotti para fazer o jardim de sua mansão na capital paulista.
- Além das transações diretas com o empresário, Nelson Wilians foi advogado da Ambec, uma das entidades ligadas a Camisotti e envolvida nas fraudes no INSS.
- A associação saiu de três associados, em dezembro de 2021, quando começou a arrecadar com descontos em folha, para 569.426, no primeiro trimestre de 2024. No período, sua arrecadação saltou de R$ 135 para R$ 30 milhões por mês.
Contato com delegado da PF
Como mostrou o Metrópoles nessa quinta-feira (29/5), Nelson Wilians procurou a PF após a operação contra as fraudes no INSS, deflagrada no fim de abril, para explicar, de forma antecipada, as transações com Camisotti.
A reportagem apurou que o delegado Caio Colombo, responsável pelo inquérito envolvendo entidades da farra dos descontos indevidos que ficam em São Paulo, não tomou o depoimento do advogado, conhecido por ostentar um padrão de vida luxuoso nas redes sociais.
Procurar um investigador para tentar se explicar antes mesmo de ser intimado é uma prática considerada incomum. Nelson Wilians não figura como investigado no inquérito que resultou na Operação Sem Desconto. O Metrópoles apurou que ele tem contato com delegados federais, porque há anos defende membros da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) em processos istrativos e judiciais.
O que diz Nelson Willians
Procurado pelo Metrópoles, Nelson Wilians afirmou, por meio de assessoria, que, “diante do vazamento indevido e possivelmente ilegal de informações protegidas por sigilo, envolvendo movimentações financeiras de uma das contas bancárias do Nelson Wilians Advogados, esclarecemos que os valores mencionados são plenamente compatíveis com a estrutura e a atuação do escritório”.
O escritório afirma não ser alvo de investigação e que não foi notificado por qualquer autoridade a respeito. “As transações financeiras são legítimas, de caráter estritamente privado, e não guardam qualquer relação com investigações sobre fraudes ou eventuais práticas criminosas”, diz a nota.
A assessoria do advogado afirma que a relação entre Wilians e Camisotti “limita-se à prestação de serviços jurídicos, sem se confundir, portanto, a figura do advogado com a do seu cliente”. “Os valores pagos a ele referem-se à compra de um imóvel, em transação privada, formalizada por contrato e devidamente registrada — sem qualquer relação com a atividade profissional da banca”, diz o comunicado.
O que diz Maurício Camisotti
A defesa de Maurício Camisotti nega qualquer participação nas fraudes no INSS e diz que o empresário contratou uma empresa de investigação para provar a inocência de suas empresas.
Em nota, os advogados do empresário afirmam que uma das empresas de Camisotti, a Benfix, foi contratada para modernizar a gestão de associações, mas não tem relação com “empresas de telemarketing ou correspondentes bancários”, que eventualmente foram contratadas pelas entidades de aposentados.
Segundo a defesa, as negociações entre Nelson Wilians e Camisotti não têm relação com as atividades empresariais. “Quanto aos negócios com o advogado Nelson Wilians, tratam-se de operações privadas — compra de imóvel e empréstimos pessoais — realizadas em 2019, devidamente registradas”, escreveram os advogados.