Na mira do Coaf, Nelson Wilians procurou PF após escândalo do INSS
Coaf cita operações suspeitas de R$ 4,3 bi do advogado Nelson Wilians, incluindo pagamentos a empresário da farra dos descontos do INSS
atualizado
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O advogado Nelson Wilians (foto em destaque) procurou a Polícia Federal (PF) após a operação contra o esquema bilionário de fraudes contra aposentados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), deflagrada no fim de abril, querendo explicar de forma antecipada as transações milionárias que fez com o empresário Maurício Camisotti, um dos principais alvos da investigação.
O Metrópoles apurou que o delegado Caio Colombo, responsável pelo inquérito envolvendo entidades da farra dos descontos indevidos que ficam em São Paulo, não tomou depoimento do advogado, conhecido por ostentar um padrão de vida luxuoso nas redes sociais. O movimento de procurar um investigador para tentar se explicar antes mesmo de ser intimado é inusual.
Nelson Wilians não figura como investigado no inquérito que resultou na Operação Sem Desconto, mas caiu na malha fina do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) por causa de operações financeiras consideradas suspeitas, incluindo pagamentos a Camisotti.
Como mostrou o Metrópoles na terça-feira (27/5), o escritório Nelson Wilians Advogados movimentou R$ 4,3 bilhões em operações financeiras consideradas suspeitas pelo Coaf, entre 2019 e 2024. Somente entre outubro de 2023 e julho de 2024, período que compreende o auge da farra do INSS, a banca recebeu R$ 449 milhões em duas contas bancárias.
Os relatórios do Coaf foram enviados à PF no âmbito da Operação Sem Desconto. Segundo o relatório, o advogado pagou R$ 15,5 milhões a Maurício Camisotti, investigado como possível “beneficiário final” da farra dos descontos sobre aposentadoria. O empresário era cliente de Nelson Wilians, que comprou um imóvel de Camisotti para fazer o jardim de sua mansão na capital paulista.
Além das transações diretas com o empresário, Nelson Wilians foi advogado da Ambec, uma das entidades ligadas a Camisotti e envolvida nas fraudes no INSS. A associação saiu de três associados, em dezembro de 2021, quando começou a arrecadar com descontos em folha, para 569.426, no primeiro trimestre de 2024. No período, sua arrecadação saltou de R$ 135 para R$ 30 milhões por mês.
O que diz Nelson Willians
Procurado pelo Metrópoles, Nelson Wilians afirmou, por meio de assessoria, que “diante do vazamento indevido e possivelmente ilegal de informações protegidas por sigilo, envolvendo movimentações financeiras de uma das contas bancárias do Nelson Wilians Advogados, esclarecemos que os valores mencionados são plenamente compatíveis com a estrutura e a atuação do escritório”.
O escritório afirma não ser alvo de investigação e que não foi notificado por qualquer autoridade a respeito. “As transações financeiras são legítimas, de caráter estritamente privado e não guardam qualquer relação com investigações sobre fraudes ou eventuais práticas criminosas”, diz a nota.
Sobre a relação com Camisotti, a assessoria do advogado afirma que ela “limita-se à prestação de serviços jurídicos, sem se confundir, portanto, a figura do advogado com a do seu cliente”. “Os valores pagos a ele referem-se à compra de um imóvel, em transação privada, formalizada por contrato e devidamente registrada — sem qualquer relação com a atividade profissional da banca”, diz o comunicado.
O que diz Maurício Camisotti
A defesa de Maurício Camisotti nega qualquer participação nas fraudes no INSS e diz que o empresário contratou uma empresa de investigação para provar a inocência de suas empresas.
Em nota, os advogados do empresário afirmam que uma das empresas de Camisotti, a Benfix, foi contratada para modernizar a gestão de associações, mas não tem relação com “empresas de telemarketing ou correspondentes bancários”, que eventualmente foram contratadas pelas entidades de aposentados.
Segundo a defesa, as negociações entre Nelson Wilians e Camisotti não têm relação com as atividades empresariais. “Quanto aos negócios com o advogado Nelson Wilians, tratam-se de operações privadas — compra de imóvel e empréstimos pessoais — realizadas em 2019, devidamente registradas”, escreveram os advogados.