Em “superquarta” dos juros, ataques ao Banco Central unem Lula e Trump
Mercado acredita em manutenção da taxa americana e em aumento de 0,50 ponto percentual da Selic, no Brasil. Presidentes querem cortes
atualizado
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É inegável que os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e dos Estados Unidos, Donald Trump, têm pouquíssimo em comum em termos políticos. Mas, em ao menos um ponto, ambos são parecidos: nos ataques aos respectivos presidentes dos bancos centrais.
E esta quarta-feira (7/5) é um dia de potencial confronto, notadamente para o presidente americano. Às 15 horas (horário de Brasília), o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês), do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), anunciará a nova taxa de juros do país.
Atualmente, ela está no intervalo entre 4,25% e 4,50%. Em janeiro, no primeiro encontro do FOMC de 2025, o Fed interrompeu o ciclo de cortes dos juros, iniciado em setembro do ano ado, quando eles estavam entre 5,25% e 5,5%.
Trump quer menos. Muito menos. Os economistas consideram que o tarifaço imposto pelo republicano ao comércio internacional, anunciado em 2 de abril, pode reduzir a atividade econômica no país. Os juros altos também esfriam a economia. Com todo esse arrefecimento, especialistas consideram que os EUA podem entrar em recessão.
Powell “perdedor”
É tudo que Trump não quer. Daí a origem dos recentes ataques que o republicano contra o presidente do Fed, Jerome Powell. O republicano acredita que o BC já deveria ter cortado as taxas do país. Nesse contexto, em abril, ele ridicularizou Powell ao defini-lo numa postagem em sua rede social, a “Truth Social”, como um “perdedor”, além de chamá-lo de “Sr. Tarde Demais”.
Na mesma publicação, Powell foi acusado pelo republicano de beneficiar o ex-presidente Joe Biden e a ex-vice-presidente Kamala Harris, a candidata democrata à sucessão, ambos adversários de Trump. A Casa Branca chegou a cogitar da demissão do líder do Fed, uma possibilidade que deixou os mercados globais de câmbio e ações de pernas para o ar e, posteriormente, foi negada por Trump.
Nada de cortes
Apesar da chiadeira do presidente dos EUA, os analistas de mercado consideram que o FOMC, do Fed, não cortará os juros americanos nesta quarta-feira. De acordo com a ferramenta FedWatch, do CME Group, que calcula a probabilidade de uma eventual redução da taxa, as chances de manutenção dos juros no atual patamar (entre 4,25% a 4,50%) são de 99,6%. O mercado só antevê numa redução de 0,25 ponto percentual em julho – e, ainda assim, com ressalvas.
Lula vs. Campos Neto
No caso brasileiro, Lula já não tem reclamado do Banco Central com fez nos dois primeiros anos de mandato, em 2023 e 2024. Mesmo porque o atual presidente do órgão, Gabriel Galípolo, foi indicado pelo petista e assumiu o posto neste ano. Mas não faltaram críticas a Roberto Campos Neto, o ex-presidente da instituição.
Lula disse, em fevereiro, que o Campos Neto “teve um comportamento anti-Brasil” em sua gestão. O presidente da República também definiu o ex-líder do BC brasileiro como um “adversário ideológico”, atribuindo-lhe ambições políticas.
Recado dado
Quanto à atual gestão de Galípolo, Lula a apoiou depois do aumento da taxa básica de juros do Brasil, a Selic, em janeiro, quando ela ou para 13,25% ao ano (agora, está em 14,25%, após nova elevação, em março). Ainda assim, na ocasião, o petista mandou seu recado ao atual presidente do BC, em entrevista concedida a jornalistas: “Faça o que você tem que fazer, mas saiba que o povo brasileiro precisa da baixa de juros”.
Queda de juros, porém, não é a aposta do mercado para a conclusão da reunião desta quarta-feira do Comitê de Política Monetária (Copom), do BC, prevista para ocorrer às 18h30, quando a nova Selic será anunciada. A maior parte dos analistas, assim como dos investidores, prevê que o Copom aumentará a taxa em 0,50 ponto percentual, levando-a para 14,75% ao ano, o maior nível desde julho de 2006.