Trump defende tarifaço como solução econômica há mais de 30 anos
Nesta semana, Trump surpreendeu o mundo com um tarifaço generalizado, mas essa “solução econômica” é uma velha conhecida dele
atualizado
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Mesmo com sucessivos avanços e recuos, o tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na última quarta-feira (2/4), no que ele chamou de “Dia da Libertação da América” , chocou o mundo. Para quem conhece a retórica do republicano, porém, o tema não é uma novidade. Desde a década de 1980, Trump afirma que as subtarifas nos produtos importados pelos EUA são o motivo de a economia norte-americana não ir bem.
O discurso de Trump para aplicar o tarifaço segue a mesma retórica repetida há mais de 30 anos: que tais impostos impulsionarão a manufatura doméstica e nivelarão o campo de jogo com outros países que impõem tarifas mais altas sobre importações dos EUA em relação às que os EUA cobram por seus produtos.
“O fato é que não temos uma troca justa. Você acha que temos uma troca justa, mas não temos. Eu acredito que muitas pessoas estão cansadas de verem outros países roubarem os EUA. Este é um país incrível. Por trás de nós, esses países riem da gente”, disse Trump à CNN em 1987.
O que está acontecendo
- O presidente dos EUA anunciou, no que ele chamou de “Dia da Libertação”, tarifas a 117 países pelo mundo.
- A China foi taxada, inicialmente, em 34% sobre todos os produtos importados pelos EUA.
- Como resposta à taxação, o país oriental anunciou uma tarifa retaliatória de 34% aos EUA.
- Em escalada da guerra tarifária, nessa terça-feira (8/4), a Casa Branca anunciou que aplicará uma tarifa de 104% sobre todos os produtos chineses. Em resposta, a China irá aplicar 84% sobre os produtos importados dos EUA.
- Donald Trump, em uma escalada tarifária, anunciou que imporá uma tarifa recíproca de 125% à China. As tarifas recíprocas de Trump entraram em vigor nesta quarta-feira (9/4). As tarifas da China entrarão em vigor nesta quinta (10/4).
Segundo Trump, sua chegada à presidência se deu em meio à raiva norte-americana derivada da perda de empregos na indústria e do aumento dos déficits comerciais.
Mesmo os Estados Unidos sendo a maior economia do mundo, Trump, há muito tempo, sustenta a visão de que os EUA são roubados por outros países e que as tarifas são uma resposta para retificar décadas do que ele chama de tratamento injusto que fechou fábricas, dizimou comunidades e prejudicou trabalhadores.
No entanto, após o anúncio de novas tarifas, os mercados de ações caíram vertiginosamente e só se recuperaram nessa quarta-feira (9/4), quando o republicano finalmente recuou dos anúncios e decidiu suspender as tarifas norte-americanas para alguns países, especialmente sobre aqueles que não retaliaram os EUA.
Nesse meio tempo, não foram só os bilionários que tiveram perdas com queda das bolsas. Consumidores dos EUA já sentem no bolso o aumento dos preços, que deve se agravar com as novas tarifas. O aumento nas prateleiras acontece após um período de otimismo pós-eleição.
As pesquisas que avaliam o sentimento do consumidor já começam a mostrar que a população dos Estados Unidos sente-se pior em relação a suas finanças e à inflação do que há alguns meses.
Segundo Donald Trump, “todas as previsões que nossos oponentes fizeram sobre o comércio nos últimos 30 anos foram provadas totalmente erradas. Não podemos fazer o que temos feito nos últimos 50 anos”.
Antes mesmo de entrar na política, quando os EUA conheciam Donald Trump como um empreendedor imobiliário na década de 1980, ele já vinha criticando as práticas comerciais e empresariais de outros países que considerava injustas. Naquela época, o Japão era um rival econômico em expansão e Trump costumava atacar suas táticas.
“Se você for ao Japão agora mesmo e tentar vender algo, esqueça, Oprah. Simplesmente esqueça. Eles vêm aqui, vendem seus carros, seus videocassetes, eles acabam com nossas empresas”, disse Trump, em uma entrevista de 1988 a Oprah Winfrey.
Veja vídeo das falas de Trump nos anos 1980