Fase 2 do cessar-fogo em Gaza está cercada de incertezas. Entenda
O governo egípcio anunciou que as negociações entre Israel e Hamas sobre a segunda fase do cessar-fogo começaram na quinta-feira (27/2)
atualizado
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A primeira fase do acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas se aproxima do fim, com a entrega de reféns em andamento e os termos sendo mantidos sob pressão de mediadores. Tanto o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, quanto o Hamas enfrentaram desafios durante essa etapa, marcada por tensões e adiamentos que ameaçaram a continuidade do pacto.
Agora, as delegações se preparam para avançar — ou não — para a próxima fase das negociações. Na madrugada de quinta-feira (27/2), o Hamas entregou quatro corpos de reféns israelenses, enquanto Israel iniciou a liberação de mais de 600 prisioneiros palestinos. Essas libertações ocorreram no âmbito do final da primeira fase do acordo, dando início às especulações sobre a segunda fase.
Cessar-fogo
- A primeira das três fases do acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas inclui a troca de reféns israelenses por presos palestinos.
- Segundo os termos iniciais, 33 reféns mantidos em Gaza pelo Hamas seriam soltos neste estágio do cessar-fogo. Em troca, Israel liberaria cerca de mil presos palestinos.
- O cessar-fogo entre Israel e Hamas era discutido desde agosto de 2024, com a mediação do Catar, Estados Unidos e Egito.
O governo egípcio anunciou que as negociações entre Israel e Hamas sobre a segunda fase começaram na quinta-feira (27/2), no Cairo. Com representantes de Israel, Catar e Estados Unidos, as discussões sobre a próxima etapa tiveram início com debates relacionados à entrega de ajuda humanitária à Faixa de Gaza, conforme informado no comunicado.
“De acordo com o SIS (Governo do Egito), as partes envolvidas iniciaram discussões intensivas sobre as fases subsequentes do acordo de trégua em meio aos esforços contínuos para garantir a implementação dos entendimentos acordados”, informaram no comunicado.
A segunda fase do acordo ainda está sendo discutida, mas há dúvidas sobre a continuidade do cessar-fogo. A fase abrange a libertação de todos os reféns restantes, bem como os demais prisioneiros palestinos.
Esta fase também inclui a retirada completa do exército israelense da Faixa de Gaza, mas os detalhes dos termos ainda não foram revelados.
De acordo com a mídia local, Israel pretende estender a primeira fase por mais seis semanas. O grupo palestino também solicitou à comunidade internacional que pressione Israel para garantir a continuidade do acordo.
Netanyahu afirmou durante dias que eliminaria o Hamas, mesmo com o progresso das negociações, o que gerou incertezas sobre a continuidade do acordo.
João Miragaya, mestre em história pela Universidade de Tel-Aviv, assessor do Instituto Brasil-Israel e membro do podcast Do Lado Esquerdo do Muro, contou ao Metrópoles que o governo israelense “demonstra falta de interesse em chegar a um entendimento”.
“A fase 2 do acordo prevê o fim da guerra, e o governo Netanyahu corre sério risco de queda neste caso. Há uma pressão muito forte de partidos da extrema direita pela continuidade da guerra, mesmo que isso acarrete na morte de reféns”, conta Miragaya.
O especialista explicou que a extensão da primeira fase seria “uma forma de o governo Netanyahu não decretar o fim da guerra, ao mesmo tempo que a guerra não retorne de fato”.
“O Hamas precisa que a segunda fase do acordo entre em vigor, pois é o que lhes garante a permanência do controle sobre Gaza”, explica.
De acordo com Miragaya, a continuidade da guerra impede que o Hamas reconstrua a região e se reestruture. “O Hamas não se mostrou disposto a um acordo de paz com Israel, o grupo sequer reconhece o Estado de Israel, e qualquer cessar-fogo, por mais duradouro que seja, não significa que haverá paz na região a longo prazo”, complementou o profissional.
“Israel não se vê obrigado a dar sequência ao cessar-fogo, uma vez que (ainda) não houve acordo sobre a segunda fase. Hamas alega que o acordo foi feito para que houvesse uma fase 2, e acusa Israel de sabotá-lo”, destaca.
O foco desta fase também está na retirada das tropas israelenses em Gaza. No entanto, o território tem olhares do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que conta com o apoio de Netanyahu para a retirada dos palestinos e a posse da região.
Miragaya conta que “cerca de 86% de todos os edifícios de Gaza foram total ou parcialmente destruídos” e que a maior parte do território precisa de uma reconstrução com urgência”.
Primeira fase
Apesar dos avanços para a próxima fase, a primeira fase do acordo foi marcada por intensas tensões entre Israel e Hamas, com ambas as partes se acusando de violações. Esses conflitos têm comprometido a estabilidade do pacto desde o seu início.
Hamas chegou a acusar Israel de não cumprir partes do acordo e ameaçou adiar a entrega dos reféns. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, havia adiado a libertação dos prisioneiros palestinos; no entanto, a medida foi realizada nessa quinta-feira (27/2).
O grupo entregou quatro corpos de reféns israelenses, enquanto Israel libertou mais de 600 palestinos.