Ex-chefe de gabinete de Torres depõe no carro e com roupa de academia
Ex-assessor do Ministério da Justiça é ouvido em audiência que investiga uma suposta trama golpista. Os depoimentos não são gravados
atualizado
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Antônio Ramirez Lorenzo, ex-assessor do gabinete do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, prestou depoimento, na manhã desta quarta-feira (28/5), como testemunha de defesa no Supremo Tribunal Federal (STF). O que chamou a atenção foi a forma como ele se apresentou, com roupa de academia, na cor verde, e de dentro do carro.
As oitivas são conduzidas pelo ministro Alexandre de Moraes, relator da ação penal que investiga uma suposta trama golpista para tentar manter Jair Bolsonaro (PL) no poder após a derrota eleitoral em 2022. No total, cinco testemunhas indicadas pela defesa de Torres devem ser ouvidas ao longo do dia.
Além da roupa esportiva, Lorenzo, que também é brigadeiro da Aeronáutica, manteve o fundo da câmera desfocado durante toda a audiência – que não pode ser gravada. O ex-assessor também ocupou o cargo de secretário-executivo do Ministério da Justiça durante a gestão de Torres.
O ex-assessor respondeu questionamentos sobre a live em que o ex-ministro da Justiça Anderson Torres foi convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em julho de 2021, para apontar “fraudes” nas urnas eletrônicas.
“[A live] Foi um evento bastante emblemático no ministério. Recebi uma ligação informando que naquela semana haveria uma live tradicional com o presidente, e a pauta seria urnas eletrônicas. Fiquei supreso. Eu falei: ‘Ministro, a live será no MJ, e a pauta será sobre urnas eletrônicas’. Eu quis retirar a pauta do MJ. A segunda medida seria diminuir a exposição dele nessa live, e a terceira linha de ação seria buscar algum conteúdo essencialmente técnico. Algo que pudesse ser dito sem nenhum comprometimento”, explicou.
“A pauta era polêmica. Não havia sinais de problemas em votação eletrônica, e ela (a pauta) nos preocupava bastante”, completou.
Até agora, o Supremo ouviu testemunhas indicadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) – ou seja, de acusação –, além de depoentes apontados pelo colaborador e ex-ajudante de ordens Mauro Cid; pelo general Walter Souza Braga Netto; pelo deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ); pelo ex-comandante da Marinha almirante Garnier Santos; e pelo ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) general Augusto Heleno.
Papel de Anderson Torres
Ao denunciar Anderson Torres, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, afirmou que o ex-secretário de Segurança do Distrito Federal integrou uma organização criminosa desde junho de 2021.
De acordo com a acusação, o grupo, que seria liderado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), teria atuado nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 e “utilizou violência e grave ameaça com o objetivo de impedir o regular funcionamento dos Poderes da República e depor um governo legitimamente eleito”.
O primeiro indício da participação de Torres na suposta trama, segundo Gonet, remonta a uma live de Bolsonaro em 2021, na qual o então ministro “contribuiu para a propagação de notícias inidôneas sobre o sistema eletrônico de votação”.
Com relação especificamente aos atos do 8 de Janeiro, Gonet apontou que Torres e outros integrantes das forças de segurança “revelaram descumprimento deliberado do dever que se lhes impunha, no âmbito das suas responsabilidades na segurança pública, de prevenir exatamente as barbaridades ocorridas”.
“A gravidade das informações que deixaram de ser compartilhadas confirma que houve omissão dolosa dos garantes da ordem pública, em prol do plano disruptivo da organização criminosa. Não cumpriram os deveres inerentes à responsabilidade de evitar os eventos danosos”, declarou o procurador-geral.
Anderson Torres nega todas as acusações.