A vida depois de… Cruzar com um buraco no meio do caminho e parar no hospital
Eder de Oliveira Luciano é uma das vítimas da má conservação do asfalto da DF-001. Por sorte escapou vivo de um acidente causado por buracos, mas teve ferimentos graves, que viraram sequelas físicas e emocionais
atualizado
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Cruzes brancas à beira da estrada simbolizam as vidas perdidas na DF-001, próxima ao Lago Oeste. Ao longo da via, o asfalto está em pedaços, o acostamento é coberto por pedras e há partes de carros e peças de motos que se desprenderam em acidentes, muitos deles fatais. Eder de Oliveira Luciano, 44 anos, é uma das vítimas da DF-001. Por sorte escapou vivo, mas não sem ferimentos graves, que viraram sequelas físicas e emocionais.

“A moto ficou descontrolada, o guidão ia de um lado para o outro. Sempre via funcionários do DER jogando asfalto dentro dos buracos, com uma pá. É uma maquiagem, um paliativo muito perigoso. Estourar pneu é o que ocorre de menos grave ali”, alerta Eder.
Ele perdeu grande parte da pele das costas, do peito e dos joelhos. Feriu as mãos, teve o nariz fraturado e uma luxação no tornozelo. Ficou três meses enfaixado e, ainda hoje, tem muita dificuldade para respirar e não consegue correr. Provavelmente, precisará de uma cirurgia, que custará caro.
“Tive 3 mil de prejuízo com a moto, gastei R$ 600 em analgésicos e R$ 2,5 mil em internação, pois o hospital público não tinha nem maca. Os bombeiros disseram: “Desenrola que a gente precisa levar a maca”. Então, fiquei em pé no corredor o tempo todo, até que desisti e recorri ao Santa Helena”, relata.
Meu rosto ficou desfigurado, meu nariz partiu-se ao meio. Era muito sangue, tanto que ei pelo lugar depois e ainda tinha manchas vermelhas. Eu sentia tanta dor que não conseguia pensar
Eder Luciano

Eder é motorista de caminhão, trabalha como autônomo e ficou três meses afastado. Teve de contratar um motorista para dirigir em seu lugar, para não perder o sustento. “Fui negligenciado pelo governo duas vezes. Na primeira, porque não cumpriram a obrigação de cuidar da pista. Na segunda, porque o hospital não tinha condições de me receber”, desabafa.
Além das cicatrizes físicas, Eder teve traumas emocionais. Precisou de tratamento com psicólogo para ter coragem de dirigir novamente. Sempre que a pela DF-001, recorda os momentos de pânico que viveu. “Posso fazer uma lista das mortes que já vi ali, por conta da falta de cuidado com o asfalto. No ano ado, no Dia das Mães, vi duas crianças morrerem em um acidente violento. Vários carros derrubam postes. É uma situação de abandono com a vida humana”, conclui.

O Departamento de Estradas e Rodagem (DER), responsável pela DF-001, informou, por meio da assessoria de imprensa, que a licitação para recapeamento asfáltico está pronta. As obras devem começar na primeira semana de março e custarão R$ 6,8 milhões.
Mortes no asfalto
De acordo com o DER, foram 18 acidentes fatais em 2015, na EPCT (ou DF-001), e 28 ocorrências dessa natureza, em 2014. A via tem 140 km de extensão. O trecho a ser restaurado, no Lago Oeste, compreende os kms 119,3 a 131,8, conforme especificado em edital publicado no site do DER-DF. O trecho da DF-001 que a por Brazlândia é um dos mais perigosos e ficou conhecido como Curva da Morte.
Na tentativa de chamar a atenção dos governantes para a má conservação do asfalto, o Metrópoles convidou grafiteiros da cidade para colorir os buracos do DF. O problema motivou o projeto #bsburaco, no qual sete artistas da cidade— Ju Borgê, Toys, Omik, Yong, Siren,Gurulino e Rato — promovem intervenções artísticas nas falhas espalhadas ao longo das ruas e avenidas da capital.
Na noite desse sábado (6/2), Ju Borgê fez uma verdadeira obra de arte entre dois buracos localizados em Vicente Pires.