Quem é Patrona, peruana sócia de PMs que comandavam Milícia do Brás
Mulher acusada de participar de Milícia foi flagrada em ligação com PM discutindo organização de barracas
atualizado
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São Paulo — Uma peruana emergiu como uma figura central da milícia formada por policiais militares no Brás, na região central de São Paulo. Miriam Esther Hernandez Rodriguez é tratada como “Patrona” — patroa, em tradução livre — por um PM acusado de integrar a quadrilha.
A mulher integra a lista de 15 denunciados sob acusação de pertencer a um grupo que extorquia camelôs nas ruas do Brás, muitos deles imigrantes. Câmeras escondidas, escutas ambientais e grampos telefônicos detalharam como funcionava o esquema criminoso, que tinha entre seus integrantes três policiais militares da ativa, três reformados e uma escrivã da Polícia Civil paulista.
Na ligação com o cabo José Renato Silva de Oliveira, em portunhol, ele deixa claro as cobranças realizadas no Brás e discute com a peruana a organização das barracas nas ruas da região.
“Todo bien ‘patrona’, buenas tardes ou boa tarde?”, diz o policial, em tom amistoso. Ambos falam sobre aumentar o número de barracas na rua Monsenhor de Andrade e também deixam claro a contratação de novos seguranças.
“Cierto, certinho, isso é certinho, menos mal que ontem, como tem brasileiros que tan pagando esse custo na esquina, é…ontem, bueno, hoje na madrugada eu falei com ellos, me intenderam gracias a Deus”, diz a mulher, em outra parte da conversa.
Taxa de proteção
Segundo promotores do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo (MPSP), a milícia do qual ambos faziam parte se aproveitou do fato de que região é lotada de comerciantes estrangeiros em situação irregular no Brasil para exigir uma taxa de proteção.
A situação chegou ao ponto de vendedores se endividarem com agiotas para pagarem o grupo. Quando não quitavam a dívida, os mesmos policiais eram contratados pelos agiotas para exigir os valores do empréstimo.
Uma testemunha protegida relatou aos promotores que, no começo, um grupo cobrava R$ 50,00 pelo uso de um espaço, mas, após seis meses, ou a exigir R$ 3.000,00 anuais e R$ 200,00 semanais, utilizando ameaças e intimidação. No segundo ano, os valores subiram para R$ 5.000,00 e R$ 250,00 semanais. Em setembro de 2023, ao retornar ao local de trabalho após uma ausência por doença, a testemunha foi expulsa pelo grupo, que afirmou ter colocado outra pessoa em seu lugar e ameaçou agressão, caso não saísse.
Para dar aparência de licitude ao esquema, a milícia usava uma cooperativa e um sindicato para fazer as cobranças dos ambulantes.
A reportagem não localizou a defesa do policial e da peruana. O espaço está aberto para manifestações.