Plano para Jd. Pantanal tem vaivém da prefeitura em meio a drama local
Gestão Nunes muda de discurso ao menos três vezes sobre solução para bairro alagado na zona leste. Pantanal vive dias de caos com inundação
atualizado
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São Paulo — O Jardim Pantanal completa, nesta quarta-feira (5/2), cinco dias com as ruas alagadas. Desde a última sexta-feira (31/1), quando uma forte chuva atingiu o bairro, na zona leste da cidade, os moradores acumulam prejuízos e têm improvisado barcos para se locomover de um ponto a outro da região.
Em meio ao caos, a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) apresentou pelo menos três versões sobre como pretende solucionar o problema das enchentes no bairro de forma definitiva, e caiu em contradição ao divulgar estudos preliminares sobre a área.
No sábado, primeiro dia de alagamento, a prefeitura divulgou uma nota dizendo que estava finalizando a construção de um pôlder na região, prometido para 2023, e ressaltou um projeto para regularizar os imóveis de 4 mil famílias no bairro. “Destas, 900 recebem o título de regularização ainda neste ano”, dizia a nota.
No mesmo dia, no entanto, Nunes visitou o Pantanal e fez um discurso mais duro sobre o enfrentamento da enchente, defendendo a remoção das famílias da região.
“Tem uma obra que a gente estava orçando, para a gente fazer um dique, mas fica mais de R$ 1 bilhão. Veja, uma obra que vai custar R$ 1 bilhão não vale a pena. Não vale a pena. Vai ficar muito caro. Se você pegar o número de casas que tem lá e dividir por um R$ 1 bilhão, acho que é mais fácil tirar as pessoas. Aquelas pessoas vão ter que sair dali, não tem jeito. Vai ser isso. Está abaixo do nível do rio. É muito complicado”, afirmou o prefeito.
A mudança no discurso gerou críticas da população do local, que cobrou o emedebista.
“Prefeito, não queremos remoção, queremos solução. Minha filha trabalha há 12 anos no Brás, vendendo café, lanches e sucos. Foi com o dinheiro suado das vendas que ela comprou uma casa e o senhor quer nos remover. Nunca”, disse a ambulante Netinha Batista, ao Metrópoles.
Nessa segunda (3/2), Nunes falou que estudava oferecer ajuda financeira de até R$ 50 mil para que famílias deixem a região.
“A princípio, pela dimensão e a localização, são 30 anos de problemas, não vejo outra situação a não ser tentar convencer as pessoas a sair de lá. Porque toda vez que chover, vai acontecer isso. Estamos pensando em outras ideias, ainda não está fechado, de repente fazer uma ajuda financeira de R$ 20 mil a R$ 50 mil, dependendo da casa, para a pessoa sair de lá”, afirmou durante uma agenda na zona sul da cidade.
No dia seguinte, cobrada pela imprensa sobre qual seria o valor total para retirar as famílias do bairro, a prefeitura divulgou uma estimativa do orçamento do projeto. O valor, no entanto, custaria quase o dobro da obra do dique mencionada por Nunes: R$ 1,9 bilhão.
No comunicado, a gestão disse que outras duas alternativas para o local são estudadas. As opções, envolvendo obras de macrodrenagem, com remoção de algumas famílias, custariam aproximadamente R$ 1 bilhão cada.
Em entrevista a jornalistas, nessa terça (4/2), o prefeito disse que nenhuma ação estava decidida ainda. “A gente vai ter que entender o que efetivamente está acontecendo. Não vamos conseguir fazer nenhuma ação efetiva até março. Nenhuma decisão hoje vai ser possível de resolver o problema. O foco hoje é nas pessoas”, afirmou o emedebista.
Ao lado de Nunes, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) também evitou dar prazos para resolver os problemas na área. “Existe uma complexidade, vamos tentar construir a melhor solução de engenharia com todo senso de urgência que é necessário (…). Qual é o prazo? Eu não sei”, disse Tarcísio.
Enquanto a solução para o tema não chega, moradores da região seguem improvisando alternativas para enfrentar os alagamentos no bairro.
Nessa segunda-feira, a reportagem do Metrópoles encontrou pessoas carregando doações de água e comida em colchões infláveis, enquanto enfrentavam a água suja nas ruas do bairro. Em vários pontos a população caminhava com a água acima dos joelhos, se arriscando em trechos onde não era possível entender onde terminava o rio e começava a rua.
Em determinado momento, o Metrópoles viu uma pessoa escorregando de uma ponte, já completamente encoberta pela água, e caindo em um córrego. O rapaz precisou sair do local nadando e ficou bem.