PF foca corrupção no caso Gritzbach e pressiona “polícia de Tarcísio”
Inquérito aberto pela PF para investigar assassinato de Vinícius Gritzbach no aeroporto avança sobre esquemas de corrupção da Polícia Civil
atualizado
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São Paulo — Instaurado um dia após a morte de Vinícius Gritzbach no Aeroporto de Guarulhos, em novembro de 2024, a mando do diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, o inquérito que investigaria o assassinato do delator do Primeiro Comando da Capital (PCC) em uma área de competência federal acabou se tornando uma grande devassa sobre esquemas de corrupção na Polícia Civil paulista, o que pressiona o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) um ano antes das eleições.
Foi a partir do compartilhamento da delação premiada de Gritzbach, feito por promotores do Grupo de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público estadual (MPSP), que a PF avançou na apuração sobre crimes de extorsão, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro envolvendo policiais civis que mantinham relação com o delator, enquanto a investigação do assassinato em si acabou ficando com o Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), da própria Polícia Civil.
Pouco mais de um mês após o assassinato, a PF já estava com 130 agentes nas ruas na Operação Tacitus, deflagrada para prender um delegado e outros quatro policiais civis acusados de formarem uma quadrilha com integrantes do PCC. Na última sexta-feira (21/2), o MPSP denunciou 12 suspeitos com base nas provas obtidas na investigação conjunta com a PF, que quebrou os sigilos bancário e telefônico dos policiais, além de ter apreendido dinheiro e documentos nos imóveis deles.
No relatório final do inquérito, a corporação afirma que o homicídio de Gritzbach “foi apenas o estopim da investigação” e aponta uma série de suspeitas sobre crimes que não foram incluídos na primeira denúncia. O Metrópoles apurou que uma das frentes de investigação mira um esquema de lavagem de dinheiro e de evasão de divisas dos policiais por meio de fintechs. Segundo fontes ligadas ao inquérito, a apuração tende a avançar sobre outros policiais e não tem prazo para acabar.
A defesa do delegado Fabio Baena e do investigador Eduardo Monteiro, que estão presos e foram denunciados no caso, já contestou a investigação na Justiça, alegando “absoluta falta de atribuição” da PF para apurar um crime que seria de competência estadual e dizendo que a Corregedoria da Polícia Civil já havia investigado as mesmas suspeitas e arquivado por falta de provas. O MPSP rebateu afirmando que a delação de Gritzbach, feita após o arquivamento, trouxe provas e “novos casos de corrupção e peculato de agentes públicos”.
Pressão sobre Tarcísio
A reportagem apurou que a investigação da PF sobre corrupção na Polícia Civil tem causado um grande incômodo na cúpula da Segurança Pública do governo Tarcísio. A pasta comandada pelo secretário Guilherme Derrite já enfrenta desgaste por causa do envolvimento de policiais civis e militares com integrantes do PCC, revelado pelo caso Gritzbach.
Nos bastidores, integrantes das duas polícias, que têm um histórico de rivalidade, acusam uns aos outros de estarem mais envolvidos no escândalo. Enquanto PMs apontam para as acusações de conluio de delegados e investigadores com traficantes da facção, os policiais civis destacam a atuação de militares na escolta e no assassinato do delator do PCC. Ao todo, 17 PMs foram indiciados e estão presos.
Integrantes do governo Tarcísio acreditam que, por trás do inquérito da PF que mira policiais civis paulistas, há um interesse do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em desgastar a imagem do governador, potencial adversário do petista na eleição presidencial do ano que vem.
No processo, a PF tem sustentado que os crimes investigados no caso Gritzbach têm repercussão interestadual ou internacional, o que legitima a atuação da corporação, conforme prevê a Constituição Federal. Toda atuação tem sido feita em conjunto com o Gaeco, braço do Ministério Público paulista, e autorizada pelo juiz da 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Dinheiro da Justiça estadual.
Veja os 12 denunciados pelo MPSP
- Ademir Pereira de Andrade: empresário suspeito de ser operador financeiro do PCC, foi denunciado por organização criminosa e extorsão;
- Ahmed Hassan Saleh: conhecido como Mude, o advogado foi denunciado por organização criminosa, lavagem de dinheiro e tráfico de drogas;
- Eduardo Lopes Monteiro: investigador da Polícia Civil, denunciado por organização criminosa, corrupção iva, peculato e lavagem de dinheiro;
- Fabio Baena Martin: delegado da Polícia Civil, denunciado por organização criminosa, peculato, corrupção iva e lavagem de dinheiro;
- Marcelo Marques de Souza: conhecido como Bombom, o investigador da Polícia Civil foi denunciado por organização criminosa e lavagem de dinheiro;
- Marcelo Roberto Ruggieri: conhecido como Xará, o investigador da Polícia Civil foi denunciado por organização criminosa e lavagem de dinheiro;
- Robinson Granger de Moura: conhecido como Molly, o empresário foi denunciado por organização criminosa e lavagem de dinheiro;
- Rogerio de Almeida Felicio: conhecido como Rogerinho, o policial civil foi denunciado por organização criminosa, peculato e lavagem de dinheiro;
- Alberto Pereira Matheus Junior: delegado da Polícia Civil foi denunciado por lavagem de dinheiro, associação criminosa e corrupção iva;
- Danielle Bezerra dos Santos: esposa de Rogerinho e viúva de um gerente do PCC foi denunciada por organização criminosa e lavagem de dinheiro;
- Valdenir Paulo de Almeida: conhecido como Xixo, o policial civil foi denunciado por organização criminosa e corrupção iva;
- Valmir Pinheiro: conhecido como Bolsonaro, o policial civil foi denunciado por organização criminosa.