PCC: batismo na facção tem pergunta até sobre relação homossexual
PCC aplica questionário para criminoso que quer entrar na facção e já tem “exército” com mais de 35 mil membros, quase metade da tropa da PM
atualizado
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São Paulo — Com mais de 35 mil membros espalhados pelo país, segundo estimativa conservadora feita por investigadores, o Primeiro Comando da Capital (PCC) aplica um questionário no momento de “batismo” de cada criminoso que quer virar um soldado da facção paulista.
Para ingressar no PCC, a facção exige envolvimento anterior com o mundo do crime e a indicação de um “padrinho” integrante da organização que se responsabiliza pelas condutas do “afilhado”.
Após declarar nome, apelido no crime, endereço e “três últimas faculdades”, ou seja, locais onde esteve preso, o aspirante a faccionado deve responder “com total clareza” e “de forma verdadeira” a 11 perguntas elaboradas pelo comando (veja abaixo).
A série de questões começa indagando se o postulante aceita “de corpo, alma e coração” o convite feito por um “irmão” para ingressar na facção. Também é perguntado se a pessoa leu o estatuto do PCC, para ter ciência da “disciplina e ideologia” da organização, que tem como principal fonte de receita o tráfico de drogas.
Um dos itens questiona se o interessado em entrar no PCC “já teve algum tipo de envolvimento com pessoa do mesmo sexo ou algum ato de homossexualismo [sic]”. O estatuto da facção proíbe estupradores e pedófilos.
Durante muito tempo, a facção também proibiu homossexuais. Isso mudou recentemente, mas ainda é questionado antes do ingresso na organização criminosa.
Questionamentos sobre uso de “drogas proibidas” e participação em outras quadrilhas também compõem a lista. Por fim, é perguntado se o criminoso está ciente sobre “as guerras” enfrentadas pelo PCC e quem são seus inimigos.
O promotor de Justiça Leonardo Romanelli, coordenador do Núcleo de Inteligência do Ministério Público de São Paulo (MPSP), afirma que os criminosos decidem entrar na facção “para terem pertencimento e proteção contra os perigos da própria marginalidade”.
Ele lembra que “todos”, incluindo não faccionados, devem seguir ao estatuto e à cartilha de conduta do PCC, já mostrada pelo Metrópoles.
Tropa criminosa
Hoje, o “exército” do PCC representa quase metade do efetivo da Polícia Militar de São Paulo, a maior do país, com 80.137 agentes, contando bombeiros e profissionais que atuam no setor istrativo.
Além do contingente, de uma forma geral, os chamados “batismos” de novos membros do PCC crescem, da mesma forma que o poder econômico da facção paulista, decorrente de suas relações comerciais com a máfia calabresa ‘Ndrangheta, organização criminosa originada na Itália.
O Metrópoles apurou que, somente em um ano, na zona leste da capital paulista, foram inscritos cerca de 2 mil novos membros na facção, segundo registros do próprio PCC apreendidos pela Polícia Civil.
Grande parte do bando do PCC se concentra em São Paulo, estado onde a facção nasceu dentro do presídio há quase 30 anos, mas também há membros espalhados por todo o território brasileiro, além de América do Sul e Europa.
Única saída
“Caso algum membro queira sair do PCC, só há um requisito para isso, apenas um: a pessoa não pode mais continuar no crime”, afirma Romanelli. Na linguagem do crime, acrescenta o promotor de Justiça, esse “desertor” é chamado de “zé povinho”.
A proibição da prática de crimes ocorre pelo receio do PCC de que a pessoa desligada migre para o Comando Vermelho (CV), facção de origem carioca que disputa território com a organização criminosa paulista. “Os membros do PCC são neuróticos, matam muita gente supondo ser do CV”, diz o promotor.
Se porventura a pessoa que saiu do PCC for flagrada envolvida em alguma atividade criminosa, ela é submetida a um tribunal do crime, conhecido como tabuleiro entre os membros da facção. As punições podem oscilar de espancamentos a quebra de membros e morte.