Lavagem via “fintechs do PCC” usou pedreiro e beneficiário de auxílio
Operação do MPSP com a PF, nesta terça-feira (25/2), mirou esquema de lavagem de dinheiro do PCC por meio de fintechs
atualizado
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São Paulo — O esquema de lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC) por meio de fintechs, alvo de operação do Ministério Público de São Paulo (MPSP) e da Polícia Federal (PF) deflagrada nesta terça-feira (25/2), usou uma rede de laranjas que incluía um servente de pedreiro e uma adega em nome de um homem que recebeu auxílio emergencial para ocultar transações financeiras.
A Operação Hydra prendeu nesta terça o policial civil Cyllas Salerno Elia Júnior e pediu o bloqueio de ativos e suspensão da atividade econômica das fintechs 2GO Bank, da qual Cyllas é CEO, e Invbank, acusadas de lavarem dinheiro para a facção criminosa.
Segundo o MPSP, a 2Go recebeu, entre setembro de 2022 e dezembro de 2023, R$ 7,76 milhões da empresa AR Intermediação, suspeita de ser uma empresa de fachada. A AR, por sua vez, recebeu 74 transferências da Adega Garagem (foto em destaque), no valor total de R$ 21 milhões no período.
Ainda de acordo com os promotores, a adega, que fica na periferia da zona leste de São Paulo, está registrada em nome de Mauricio Walter de Cordeiro, “pessoa sem capacidade financeira lícita, visto que foi beneficiário do auxílio emergencial durante o período da pandemia em 2020”.
Já a fintech Invbank recebeu rees milionários da empresa Crédito Urbano Eireli, cujo dono formal era o servente de pedreiro Josenilson Urbano dos Santos. O MPSP suspeita que o verdadeiro proprietário dela seja Carlos Alexandre Ballotin, fundador do Invbank e alvo de busca e apreensão nesta terça-feira.
Segundo a investigação, as fintechs direcionavam depósitos para contas de “laranjas” controladas pelas próprias empresas e, depois, transferiam o dinheiro para a compra de imóveis e outros bens ou para contas no exterior, dificultando a fiscalização por órgãos de controle, como o Banco Central (BC) e a Receita Federal.
“Trata-se de modus operandi típico de operadores financeiros incumbidos de lavar dinheiro ilícito: o responsável pela operação recebe o dinheiro, distribui-o entre diversas pessoas e, em contrapartida, tais pessoas direcionam os montantes recebidos para outras, a mando do operador, ou devolvem uma parte para a origem”, diz a investigação.
Operação Hydra
A operação do MPSP e da Polícia Federal mira na atuação das fintechs 2 GO Bank e Invbank. A investigação foi iniciada a partir da delação de Vinicius Gritzbach, jurado de morte pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) e executado a tiros de fuzil em novembro de 2024 no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. Ele também havia denunciado corrupção de policiais civis.
Com o objetivo combater a lavagem de dinheiro ligada à facção criminosa, a PF e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MPSP, cumpriram o mandado de prisão preventiva contra o policial e dez mandados de busca e apreensão em endereços nas cidades de São Paulo, Santo André e São Bernardo.