Influencers de finanças questionam concursos da USP após reprovação
Faculdade de Economia da USP diz que recursos de um dos concursos já foram analisados. Samy Dana e Felipe Pontes tentavam vagas de professor
atualizado
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São Paulo — Dois concursos para a contratação de professores do departamento de contabilidade da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (FEA-USP) são alvo de questionamentos por parte de figuras conhecidas pelo mercado financeiro. Eles acusam irregularidades que teriam favorecido os candidatos aprovados.
O primeiro questionamento diz respeito a um edital publicado em 2024 para um cargo de professor de dedicação integral na área de Contabilidade Financeira e Finanças com salário de R$ 15.498,97.
Segundo um candidatos, Felipe Pontes, a prova realizada entre os dias 5 e 8 de maio deste ano aconteceu sem o cumprimento dos ritos convencionais, com a liberação antecipada de cinco dos oito candidatos inscritos. Os três restantes foram, coincidentemente, os convocados para a etapa seguinte.
Além disso, a denúncia acusa a seleção de não ter entregue o espelho da prova impresso a um dos candidatos e de conflito de interesse por ter escolhido um candidato que compartilha o mesmo orientador do presidente da banca.
Pontes é responsável pela gestão do fundo de investimentos AvantGarde e compartilhou a suposta irregularidade em seu perfil do LinkedIn, tornando o assunto ponto de discussão em reuniões do colegiado da faculdade. Após fazer um comentário apoiando a postagem, um professor da FEA de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, chegou a receber telefonemas de colegas pedindo que o texto fosse apagado.
Em conversa com o Metrópoles, Pontes disse acreditar em uma tentativa da faculdade de afastar determinados perfis conhecidos pelo mercado financeiro, ainda que eles possuam a qualificação exigida nos editais.
Na mesma lógica desse apontamento está o questionamento feito por Samy Dana contra outro edital de contratação de dois professores adjuntos com salário de R$ 6.819,65 na área de finanças da mesma faculdade. Dana pede que a USP anule a homologação do resultado, que teria acontecido com irregularidades na concessão das notas sobre os currículos.
De acordo com o requerimento do economista, a candidata escolhida para uma das vagas teve uma pontuação maior, mesmo tendo uma quantidade de títulos e publicações inferior a ele, classificado em segundo lugar. Apesar de duas vagas em disputa, a universidade convocou apenas a primeira colocada no concurso. No recurso, a defesa de Dana acusa a banca de “total ausência de critérios objetivos nas avaliações ao comparar as notas atribuídas aos memoriais do recorrente, se comparadas às notas atribuídas à única candidata aprovada”.
Assim como Pontes, Dana é figura conhecida do mercado. Ele é professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e comentarista da Jovem Pan.
Dana preferiu não se pronunciar sobre o assunto mas sua defesa enviou uma nota dizendo que “o recurso ofertado visa apontar a existência de irregularidades e efetuar a revisão da nota, a partir de critérios para aprovação que estejam em conformidade com o disposto no edital do concurso. O candidato Samy aguarda que seu recurso seja devidamente analisado e julgado pelos membros da Congregação da FEA antes da homologação do concurso, de modo a possibilitar revisão das notas, afinal a istração pode rever seus próprios atos no exercício da autotutela. As questões tratadas no recurso do candidato Samy, divergem das questões trazidas pelo candidato Felipe Pontes, ademais não é o mesmo concurso”.
O Metrópoles questionou a FEA-USP sobre os apontamentos levantados pelos candidatos, que respondeu informando que os recursos foram discutidos em uma reunião fechada da Congregação da FEA da última quarta-feira (30/4).
Na ocasião, a faculdade decidiu pela homologação do resultado do edital questionado por Pontes, ainda que o recurso apresentado não tenha sido julgado. Já o resultado do concurso para professor adjunto ainda deverá ser analisado.
Especialista cita “vícios formais e materiais”
O Metrópoles pediu para o advogado Pedro Rodrigues, da banca de direito istrativo do servidor público no escritório Cassel Ruzzarin Advogados, para analisar os pedidos de recursos apresentados pelos candidatos.
Rodrigues avaliou que as denúncias têm vícios formais e materiais graves que, se comprovados, têm potencial jurídico para anular os concursos.
Ele pontuou que “a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e tribunais estaduais já reconheceu a nulidade de concursos por vícios semelhantes, especialmente quando há afronta direta às normas do edital e ausência de motivação nos atos cometidos”.
Para o advogado, os indícios apresentados têm base formal concreta, que comprometem a individualidade e efetividade da avaliação, algo exigido expressamente pelo edital.
“Também chama atenção as denúncias quanto à subjetividade e a falta de impessoalidade nas correções, resultando em uma ausência de divulgação de critérios de correção e motivação destas, o que traz questionamentos às notas atribuídas a demais candidatos”, disse o advogado.
Segundo Rodrigues, a USP poderia ser mais transparente nos processos se gravasse e disponibilizasse publicamente algumas etapas da seleção, especialmente as etapas de avaliação oral, além de divulgação dos espelhos de correção.