Clã de empresário da farra do INSS movimentou R$ 790 mi sob suspeita
Relatórios do Coaf enviados à PF mostram transferências milionárias de familiares de Maurício Camisotti, investigado na fara do INSS
atualizado
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Suspeito de ser um dos beneficiários finais do esquema bilionário de fraudes contra aposentados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o empresário Maurício Camisotti (foto em destaque) e mais sete familiares movimentaram ao menos R$ 787,5 milhões em “operações suspeitas” entre 2016 e 2024, de acordo com o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
Os relatórios que citam as transações do clã Camisotti comunicadas por bancos e cartórios foram anexados aos inquéritos da Polícia Federal (PF) que investigam a farra dos descontos indevidos sobre aposentadorias do INSS, revelada pelo Metrópoles. Camisotti e suas empresas foram alvos da Operação Sem Desconto, deflagrada pela PF no fim de abril.
Segundo a PF, as comunicações que compõem os Relatórios de Inteligência Financeira (RIFs) do Coaf não informam todas as operações ocorridas nas contas comunicadas, mas “apenas as operações identificadas pelos comunicantes com indícios de serem ocorrências de lavagem de dinheiro ou outro ilícito no período informado na própria comunicação”.
Operações suspeitas da família
- O empresário Maurício Camisotti, segundo os relatórios do Coaf, movimentou cerca de R$ 360 milhões em operações suspeitas entre 2016 e 2024, considerando entradas e saídas de dinheiro de suas contas.
- Ligado a três entidades da farra dos descontos (Ambec, Cebap e Unsbras), Camisotti teria recebido ao menos R$ 43 milhões dessas entidades por meio de suas empresas, segundo a PF.
- Esposa de Camisotti, Cecília Montalvão Simões é uma das sócias da Benfix, empresa que fez contratos milionários para modernizar a gestão de entidades associativas autorizadas pelo INSS a fazer descontos de mensalidade direto na folha de pagamento dos aposentados. Sozinha, ou com parentes, ela movimentou R$ 295,2 milhões sob suspeita, segundo o Coaf.
- Paulo Otávio Montalvão Camisotti, filho do casal, não é identificado como parte de nenhuma movimentação financeira, mas é citado na investigação como sócio da Rede Mais Saúde, uma das empresas de Camisotti, que recebeu recursos da Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (Ambec) e do Centro de Estudos dos Benefícios dos Aposentados e Pensionistas (Cebap), investigadas por fraudes no INSS. A empresa movimentou R$ 18 milhões entre agosto de 2023 e maio de 2024.
- Além do núcleo mais próximo a Camisotti, outros familiares do empresário constam nas movimentações financeiras relatadas à Polícia Federal. É o caso de Mario Camizotti Filho, irmão de Maurício, que movimentou R$ 5,9 milhões, em 2022. Ele também participa de outras movimentações com outros integrantes da família.
- Como mostrou o Metrópoles, a esposa de Mário, Soraia Barboza Camizotti, já foi presidente de uma associação que fez uma solicitação para ser autorizada a fazer descontos de aposentadorias.
- O sobrinho de Camisotti, Ademir Fratic Bracic foi o primeiro presidente da Ambec, entidade que já recebeu R$ 499,6 milhões, segundo o Portal da Transparência do governo federal. O pai dele também atuou pela entidade, sucedendo uma prima de Camisotti.
O que diz Maurício Camisotti
A defesa do empresário negou a existência de “ilegalidade ou irregularidade” nas movimentações suspeitas apontadas pelo Coaf. Os advogados afirmam que o “valor artificialmente inflado e desproporcional à realidade” é resultado de registros de entrada e saída de recursos, que podem estar sobrepostos. Confira abaixo a íntegra da nota enviada pela defesa da Camisotti:
“Os relatórios do Coaf que mencionam o empresário Maurício Camisotti e seus familiares deixam claro que boa parte das movimentações financeiras ali citadas ocorreram em anos anteriores ao período em que sua a prestou serviços para as associações de aposentados.
É importante destacar que os referidos relatórios (Relatórios de Inteligência Financeira – RIFs) se baseiam em movimentações consideradas atípicas por padrões estatísticos, sem que isso signifique, de forma alguma, a existência de ilegalidade ou irregularidade.
Mais do que isso: esses relatórios sobrepõem registros de entrada e saída de recursos, contabilizando diversas vezes a movimentação de um mesmo montante, o que resulta em um valor artificialmente inflado e desproporcional à realidade.
Todas as movimentações financeiras de Maurício Camisotti são lícitas, possuem lastro, são comprovadas documentalmente e foram devidamente declaradas aos órgãos competentes, como exige a legislação brasileira”.
Após a publicação da reportagem, a Rede Mais, empresa que já teve o filho de Maurício Camisotti como sócio, afirmou que a empresa não tem Maurício entre os seus sócios.
“A Rede Mais Saúde esclarece que Maurício Camisotti não pertence ao seu quadro acionário, conforme matéria publicada pelo Metrópoles em 3/6. A companhia prestou serviços de telemedicina e rede de descontos às citadas entidades e todos os recursos recebidos são provenientes desta prestação de serviços previstos no escopo dos contratos legítimos firmados entre as partes. A Rede Mais Saúde reitera que atende, há 13 anos, centenas de clientes, incluindo grandes bancos, redes de varejo e seguradoras, reunindo milhões de usuários”.