Artista plástico que morreu em temporal pintou quadro sobre enchente
Artista plástico Rodolpho Tamanini Netto, de 73 anos, ficou preso em casa e morreu afogado durante temporal dessa sexta (24/1)
atualizado
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São Paulo — O artista plástico Rodolpho Tamanini Netto, de 73 anos, que ficou preso em casa e morreu afogado durante o temporal de sexta-feira (24/1), já havia pintado um quadro sobre enchente em 2008 (na foto em destaque). A obra foi compartilhada com o Metrópoles pela Galeria Jacques Ardies, que divulgava o trabalho do artista.
O corpo do artista foi encontrado no sábado (25/1), nos fundos da casa onde vivia, localizada na Rua Belmiro Braga, na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo. A residência fica próxima ao Beco do Batman, que virou rio durante as fortes chuvas de sexta.
Rodolpho nasceu em São Paulo em 1951. De acordo com a galeria, ele iniciou a sua carreira com 19 anos de idade, em 1971, ano das suas primeiras exposições. Reconhecido no segmento da arte popular, o artista retratava a cidade em traços detalhados e simétricos. Outros quadros dele mostram o bairro Vila Madalena, São Paulo na chuva, a vista do Parque Ibirapuera e outros (veja abaixo).
“Seus trabalhos buscam um lirismo urbano, onde a tinta é aplicada com economia e os detalhes ganham a atenção do público, sem volumes ou texturas. A visão de Tamanini oferece uma abordagem única da arte popular, na qual a grandiosidade dos edifícios e espaços públicos de São Paulo é suavizada por uma atmosfera associativa e um rigor estético expressivo”, escreveu a Galeria Jacques Ardies sobre o trabalho do artista plástico.
Rodolpho Tamanini Netto é velado na manhã desta segunda-feira (27/1) no Cemitério Vila Alpina. O enterro está previsto para 11h, no mesmo local.
O que aconteceu
- Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), um amigo do artista plástico foi até a casa dele na manhã de sábado, para verificar se estava tudo bem, após a tempestade de mais de 125 mm de chuva que atingiu São Paulo;
- Quando chegou ao local, ele notou que um carro havia sido arrastado pela correnteza e danificado o portão da garagem, facilitando a entrada da água;
- O terreno onde o artista plástico vivia tinha duas casas. No imóvel dos fundos, a testemunha encontrou o corpo de Tamanini Netto e acionou a Polícia Militar (PM);
- Segundo a SSP, o caso foi registrado no 14º Distrito Policial (Pinheiros) como morte suspeita.
Temporal
A cidade foi castigada por alagamentos, desabamentos, desespero e falta de energia na sexta. A morte do artista foi a única contabilizada pela Defesa Civil como provocada pela tempestade na cidade.
Na Vila Madalena, a cena mais impactante foi registrada na Rua Romeu Perrotti, onde a enxurrada provocada pela chuva derrubou o muro de um prédio, arrastou carros e atingiu pelo menos dez casas.
Com a força da água, um dos carros quebrou o portão da garagem e invadiu a janela de uma casa. A sequência dos acontecimentos foi registrada por uma câmera de segurança (assista abaixo).
Esse foi o terceiro maior volume de chuva dos últimos 64 anos, segundo dados da estação do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) em Mirante de Santana, na zona norte da capital. Ou seja, o temporal é o terceiro maior desde o início da série histórica, em 1961.
A Defesa Civil do Estado ainda ressalta que, dos 125,4 mm registrados nessa sexta, o acumulado de 82 mm entre 15h e 16h foi o maior volume computado em apenas 1 hora desde 25 de julho de 2006.
Para estabelecer ainda mais um recorde, num intervalo de três horas, choveu quase metade do previsto para todo o mês de janeiro. Dos 257,3 mm de chuva esperados para o mês, 125 mm (48,5%) foram registrados nessa sexta.
Segundo os bombeiros, foram 126 chamados de árvores caídas, 219 referentes a enchentes, inundações e alagamentos, outros 14 chamados sobre desmoronamentos, desabamentos e soterramentos.