Inflação vai piorar antes de melhorar, diz sucessor de Galípolo no BC
O novo diretor de Política Monetária do Banco Central, Nilton David, também não acredita em uma rápida reversão das expectativas do mercado
atualizado
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O novo diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Nilton David, afirmou nesta sexta-feira (21/2) que o aumento de preços ainda vai persistir no Brasil. Isso ao menos no curto prazo. “A gente entende que os próximos meses serão desafiadores”, disse David. “A inflação de 12 meses vai piorar antes de melhorar.” A afirmação foi feita em uma live com Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco.
David assumiu o cargo em janeiro de 2025, substituindo Gabriel Galípolo, que ou a ser o presidente do BC. Ele é formado em engenharia de produção pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Desde 2019, foi chefe de operações na Tesouraria do próprio Bradesco.
Na conversa com o executivo do banco privado, David acrescentou que, no terceiro trimestre do ano que vem, o atual horizonte relevante do BC, a inflação deve chegar a 4% ao ano. Esse percentual coloca a taxa dentro da meta, mas acima do centro, que é de 3% (ela tem um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual, o que leva o número a 4,5% ao ano).
“O grande desafio vai ser ver essa inflexão da inflação, que não vai acontecer nos próximos meses”, frisou o novo diretor do BC. “Isso não é o esperado. A incerteza é grande.”
Expectativas
David observou que, diante desse quadro, não acredita que as expectativas do mercado em torno do processo inflacionário mudem rapidamente. “Como a gente não vê a inflação cedendo nos próximos meses, não antevê uma grande alteração das expectativas”, afirma. “Como há maior volatilidade do que de costume, as pessoas vão ter alguma relutância e trazer para baixo [as expectativas], depois de levá-las para cima recentemente.”
O diretor do BC disse ainda que o nível de ruídos no mercado em dezembro foi muito alto. Isso levou a uma grande alteração da perspectiva por parte dos agentes econômicos. Essa postura só será mudada, afirmou David, à medida que a potência da política monetária seja percebida pelo mercado. Ou seja, a partir do momento em que a ação contracionista provocada pelos juros altos do BC surta efeito concreto na taxa de inflação.
Efeito Trump
David acrescentou que o aumento de tarifas de produtos de importação, promovido pelo presidente dos Estado Unidos, Donald Trump, oferece riscos tanto para a alta, mas também para a eventual queda de juros na economia estadunidense.
No caso da elevação dos juros, ele seria consequência de um aumento dos preços, e consequentemente da inflação, como resultado das sobretaxas. Há, contudo, a possibilidade de a política comercial do republicano resultar num enfraquecimento da economia norte-americana. Nesse caso, argumentou o diretor do BC, não haveria motivo para um aumento das taxas de juros por parte do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA).