“Espero que não”, diz Lagarde sobre Trump demitir Jerome Powell do Fed
“Ambos estamos acostumados com pressões políticas, de uma forma ou de outra”, diz Christine Lagarde, presidente do BCE, sobre colega do Fed
atualizado
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A possibilidade de que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, demita o chefe do Federal Reserve (Fed, o Banco Central norte-americano), Jerome Powell, que vem sendo ventilada pela Casa Branca desde a semana ada, seria uma má notícia para a economia mundial. A avaliação é da presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde.
Em entrevista à CNBC, dos EUA, a dirigente da autoridade monetária europeia fez elogios a Powell e criticou “pressões políticas” sobre o trabalho do presidente do Fed.
“Espero que isso [eventual demissão de Powell] não seja um risco”, afirmou Lagarde.
“Ambos estamos acostumados com pressões políticas, de uma forma ou de outra. Tenho imenso respeito pelo trabalho que ele [Powell] realiza e por sua lealdade ao cargo, além de sua dedicação e disciplina para cumprir seu mandato”, completou.
No último fim de semana, em entrevista a jornalistas, questionado sobre a possibilidade de Trump demitir Powell da autoridade monetária, o diretor do Conselho Econômico Nacional, Kevin Hassett – auxiliar do presidente dos EUA para assuntos econômicos –, itiu que o assunto está sobre a mesa.
“O presidente e sua equipe continuarão analisando o assunto”, afirmou Hassett, aumentando os rumores sobre uma possível saída de Powell do comando do Fed.
Na semana ada, Trump voltou a subir o tom contra o chefe da autoridade monetária e cobrou a redução da taxa de juros no país.
A elevação dos juros é o principal instrumento dos bancos centrais para controlar a inflação.
“Os preços do petróleo caíram, os alimentos estão mais baratos e os EUA estão enriquecendo com as tarifas. O ‘atrasado’ já deveria ter reduzido as taxas de juros, como o BCE fez há tempos, mas com certeza deveria reduzi-las agora. A demissão de Powell não pode vir rápido o suficiente”, afirmou Trump.
“Espera-se que o BCE corte as taxas de juros pela sétima vez, e, no entanto, o ‘atrasado’ Jerome Powell, do Fed, que sempre chega ‘tarde demais e errado’, divulgou ontem um relatório que foi mais uma típica confusão completa!”, completou Trump.
Mais tarde, após receber a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, para um almoço, Trump reafirmou as críticas a Powell e indicou o desejo de afastá-lo do cargo: “Se eu pedir, ele vai embora”, afirmou.
Como se não bastasse toda essa especulação, Trump voltou à rede Truth Social na segunda-feira (21/4) e afirmou que há possibilidade de desaceleração da economia dos EUA em função da manutenção da taxa de juros no país.
“Com esses custos tendendo tão bem para baixo, exatamente o que eu previ que eles fariam, quase não pode haver inflação, mas pode haver uma desaceleração da economia, a menos que o ‘Sr. Atrasado’, um grande perdedor, reduza as taxas de juros agora”, escreveu Trump, atacando novamente o presidente do Fed.
Trump pode demitir o presidente do Fed?
A diretoria do Federal Reserve é composta por sete integrantes que cumprem mandatos de 4 a 14 anos – todos são indicados pela Presidência dos EUA.
A indicação para o cargo de presidente do Fed é definida pela Casa Branca e confirmada por uma votação no Senado norte-americano a cada 4 anos.
Em 2022, Jerome Powell foi indicado pelo então presidente dos EUA, Joe Biden, para um segundo mandato à frente do Fed – que termina em maio de 2026.
O entendimento majoritário nos EUA é o de que o presidente do Fed não pode ser removido do cargo sem que haja uma “justa causa”. Há, no entanto, um caso pendente de decisão pela Suprema Corte do país que remete a um precedente estabelecido há 90 anos, em 1935.
A assessoria jurídica do governo Trump deve analisar as possibilidades legais de afastamento de Powell por uma decisão do presidente. De qualquer forma, provavelmente o caso chegaria à Suprema Corte dos EUA.
Tarifaço
Na entrevista à emissora norte-americana, Christine Lagarde também comentou as tarifas comerciais impostas pelo governo Trump a diversos países, muitos dos quais integrantes da União Europeia (UE).
Segundo a presidente do BCE, ainda “há muito espaço para negociações”.
“É da natureza dos formuladores de políticas querer sentar, defender seus argumentos, apontar suas prioridades, suas linhas vermelhas e suas vulnerabilidades. Tenho certeza de que pode haver um diálogo. Ficaria surpresa se isso não acontecesse”, minimizou Lagarde.