Dólar sobe e Bolsa afunda com temor do mercado sobre situação fiscal
Moeda americana fechou em alta de 0,32%, a R$ 5,66. Ibovespa caiu 0,44%. Movimentos ocorreram depois de anúncio de relatório do governo
atualizado
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O dólar fechou em alta de 0,32%, cotado a R$ 5,66, nesta quinta-feira (22/5). O Ibovespa, o principal índice da Bolsa brasileira (B3), caiu 0,44%, aos 137.272 pontos.
Nos dois mercados, tanto no de câmbio como no de ações, houve uma forte variação dos indicadores, a partir das 15h30, depois da divulgação do Relatório Bimestral Fiscal, anunciado pelo governo em Brasília. A partir daí, o dólar disparou e o Ibovespa desabou.
Na avaliação de economistas, num primeiro momento, o mercado reagiu de forma positiva aos dados apresentados pelos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet. A seguir, com o detalhamento das medidas, o humor dos investidores virou.
“O governo anunciou um contingenciamento e bloqueio no valor total R$ 31,3 bilhões, o que foi positivo, acima da expectativa do mercado, próxima de R$ 15 bilhões”, diz Rafaela Vitoria, economista sênior do Banco Inter. “Por outro lado, a revisão de alta das despesas foi significativa, com acréscimo de R$ 25,8 bilhões, principalmente na Previdência e no BPC (Benefício de Prestação Continuada).”
Gastos desafiadores
A economista observa que, segundo o atual relatório, há uma nova estimativa de crescimento da despesa total, acima de 4%, além da inflação em 2025, que deve ultraar 19% do PIB. “O governo trouxe um pouco mais de transparência reduzindo a subavaliação das despesas obrigatórias, mas o controle do crescimento dos gastos ainda se mostra desafiador”, afirma.
Rafaela Vitória acrescenta que, pelo lado da receita, “também foi feita uma revisão realista da arrecadação, ponto positivo do relatório”. “Mas o anúncio de novos impostos, como a elevação do IOF, mostra que o governo segue com a mesma solução de aumento de receita para cobrir o aumento das despesas.”
Cenário incerto
Ela considera que, com o atual arcabouço, “estamos longe de um ajuste fiscal sustentável, com déficit estimado em R$ 97 bilhões para este ano”. “O cumprimento da meta no seu piso (-R$ 31bilhões) será garantido com o contingenciamento e empoçamento, mas para 2026 segue o cenário ainda incerto”, diz Rafaela.
Pacote de Trump
Se no Brasil, o principal vetor do mercado foi a divulgação do Relatório Bimestral Fiscal, no cenário externo, os investidores acompanharam dois fatos de peso. Foram eles a aprovação por parte da Câmara dos Estados Unidos do pacote econômico do presidente Donald Trump, que prevê corte de impostos e gastos, além de declarações de integrantes do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) sobre corte de juros.
Trump obteve uma vitória nesta quinta-feira. Por 215 votos a favor e 214 contra, a Câmara dos Representantes dos EUA aprovou o pacote de medidas de corte de impostos e gastos, uma das bandeiras da istração do republicano. Ele batizou a medida de “Beautiful Bill” (“Belíssimo projeto de lei”).
A aprovação ocorreu depois de dois dias de debates e seguirá para apreciação do Senado. O pacote, contudo, deve aumentar a dívida federal americana em cerca de US$ 3,8 trilhões na próxima década, segundo estimativa do Escritório de Orçamento do Congresso (CBO, na sigla em inglês).
Queda de juros nos EUA
Nesta quinta-feira, o diretor do Fed, Christopher Waller, afirmou que o banco central americano pode reduzir os juros no segundo semestre deste ano, caso as tarifas implementadas pelo governo de Donald Trump se estabilizem em torno de 10%. “Se isso estiver resolvido, concluído e implementado até julho, então estaremos em boa posição para cortar juros na segunda metade do ano”, afirmou.
Ele, no entanto, ressaltou que, se Trump decidir adotar tarifas mais elevadas, o impacto seria “muito maior sobre a inflação”. Nesse caso, isso “limitaria muito mais a capacidade do Fed de agir”.
Mudança de humor
Para André Valério, economista sênior do Inter, o câmbio começou o dia em alta, em linha com o resto do mundo, depois de um movimento de aversão a risco promovido pela aprovação do novo pacote de corte de impostos nos EUA. “Mas o anúncio de leilão de NTN-F (conhecido como o “título do gringo”) aliviou a pressão sobre o dólar com a entrada de capital estrangeiro durante a manhã”, diz..
“No meio da tarde, notamos movimentos mais voláteis no câmbio, associados ao anúncio do Relatório Bimestral Fiscal: o mercado expressou um otimismo inicial com a declaração de um contingenciamento de R$ 31 bilhões em despesas, visando cumprir a regra fiscal do ano vigente”, afirma Valério. “Porém, os comentários subsequentes do ministro da Fazenda geraram desânimo e apagaram a queda do dólar, ao externar preocupação acerca da queda de arrecadação gerada pela greve da Receita Federal — cuja magnitude foi grande o suficiente para não ser compensada pelos programas de desoneração da folha salarial.”
Para o economista, a perspectiva de aumento do IOF também adicionou volatilidade ao mercado. “Ela foi promovida pela incerteza acerca dos impactos no sistema financeiro, enquanto a medida não for completamente esclarecida”, diz.