Após dados fracos de emprego, Trump volta a atacar Powell: “Atrasado”
Na semana ada, o presidente dos EUA, Donald Trump, recebeu o chefe do Fed, Jerome Powell, para uma reunião na Casa Branca
atualizado
Compartilhar notícia

A trégua entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o chefe do Federal Reserve (Fed, o Banco Central norte-americano), Jerome Powell, durou pouco. Nesta quarta-feira (4/6), em mensagem publicada em sua rede social, a Truth Social, o republicano voltou a criticar a autoridade monetária pela decisão de não baixar a taxa de juros no país.
As declarações de Trump foram feitas pouco depois da divulgação do Relatório Nacional de Emprego da ADP (Automatic Data Processing), que trouxe números abaixo das expectativas do mercado.
Em maio, os EUA abriram 37 mil vagas de emprego, uma forte desaceleração em relação às 60 mil registradas no mês anterior. Analistas do mercado projetavam a abertura de 110 mil postos de trabalho.
“Saiu o número da ADP. O ‘atrasado’ Powell tem que agora baixar os juros. Ele é inacreditável. A Europa já baixou nove vezes”, escreveu Trump.
Na semana ada, o presidente dos EUA recebeu o chefe do Fed para uma reunião na Casa Branca, em uma iniciativa interpretada como uma tentativa de pacificar a relação entre os dois.
Em sua última reunião, no início de maio, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Fed anunciou a manutenção dos juros básicos no intervalo de 4,25% a 4,5% ao ano. Foi a terceira reunião consecutiva na qual a autoridade monetária norte-americana manteve inalterada a taxa de juros.
Antes das três últimas reuniões, o Fed tinha levado a cabo um ciclo de três quedas consecutivas dos juros nos EUA, que começou em setembro do ano ado – o primeiro corte em cinco anos.
A taxa básica de juros é o principal instrumento dos bancos centrais para controlar a inflação. Quando a autoridade monetária mantém os juros elevados, o objetivo é conter a demanda aquecida, o que se reflete nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Assim, taxas mais altas também podem conter a atividade econômica.
“Powell não discutiu suas expectativas para a política monetária, exceto para enfatizar que a trajetória da política monetária dependerá inteiramente das informações econômicas recebidas e o que isso significa para as perspectivas”, informou o Fed após o encontro na Casa Branca, por meio de nota.
Ainda segundo o comunicado do BC norte-americano, “Powell disse que ele e seus colegas do Fomc definirão a política monetária, conforme exigido por lei, para apoiar o emprego máximo e preços estáveis, e tomarão essas decisões com base apenas em análises cuidadosas, objetivas e apolíticas”.
Guerra entre Trump e Powell
Em meados de abril, Donald Trump subiu o tom contra o chefe da autoridade monetária e cobrou a redução da taxa de juros no país.
“Os preços do petróleo caíram, os alimentos estão mais baratos e os EUA estão enriquecendo com as tarifas. O ‘atrasado’ já deveria ter reduzido as taxas de juros, como o BCE [Banco Central Europeu] fez há tempos, mas com certeza deveria reduzi-las agora. A demissão de Powell não pode vir rápido o suficiente”, afirmou Trump.
Mais tarde, após receber a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, para um almoço, Trump reafirmou as críticas a Powell e indicou o desejo de afastá-lo do cargo: “Se eu pedir, ele vai embora”, afirmou.
Poucos dias depois, diante do mal-estar no mercado e da queda das bolsas nos EUA e na Europa, Trump recuou, amenizou o tom e praticamente afastou a hipótese de demitir Powell. “Nunca tive essa intenção. A imprensa exagera as coisas”, disse a repórteres.
“Não, não tenho intenção de demiti-lo. Gostaria de vê-lo ser um pouco mais ativo em relação à sua ideia de reduzir as taxas de juros”, prosseguiu o presidente dos EUA. “Acreditamos que este é o momento perfeito para reduzir a taxa, e gostaríamos de ver nosso presidente [do Fed] agir com antecedência ou pontualmente, em vez de com atraso.”
A diretoria do Federal Reserve é composta por sete integrantes que cumprem mandatos de 4 a 14 anos – todos são indicados pela Presidência dos EUA. A indicação para o cargo de presidente do Fed é definida pela Casa Branca e confirmada por uma votação no Senado norte-americano a cada 4 anos.
Em 2022, Jerome Powell foi indicado pelo então presidente dos EUA, Joe Biden, para um segundo mandato à frente do Fed – que termina em maio de 2026. O entendimento majoritário nos EUA é o de que o presidente do Fed não pode ser removido do cargo sem que haja uma “justa causa”. Há, no entanto, um caso pendente de decisão pela Suprema Corte do país que remete a um precedente estabelecido há 90 anos, em 1935.