Trump volta ao poder com decisões que acendem alerta na área ambiental
Uma das primeira medidas de Trump foi cumprir a promessa de saída do Acordo de Paris
atualizado
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O bilionário Donald Trump voltou à Casa Branca nesta semana adotando medidas que assustam ambientalistas mundo afora. Entre as primeiras medidas adotadas pelo novo presidente dos Estados Unidos estão a saída do país do Acordo Climático de Paris e o incentivo a perfuração de novos poços de petróleo.
O que está acontecendo:
- Donald Trump anunciou a retirada dos EUA do Acordo de Paris, que visa limitar o aquecimento global;
- O novo presidente dos Estados Unidos incentivou a perfuração de novos poços de petróleo e o uso de carros a combustão;
- Trump conta com o apoio do Congresso, de maioria republicana, para avançar com agenda ambiental criticada por ambientalistas.
Entre os governos norte-americanos, a gestão do democrata Joe Biden foi considerada progressista na questão ambiental, mesmo sem apresentar grandes avanços neste quesito. O agora ex-presidente norte-americano chegou, inclusive, a anunciar mais US$ 50 milhões para o Fundo Amazônia, durante viagem ao Brasil para a reunião de cúpula do G20.
Mas as medidas adotadas por Biden foram consideradas insuficientes para cumprir o Acordo de Paris, compromisso mundial para redução das emissões dos gases de efeito estufa e limitar o aquecimento global a 1,5 ºC.
Claudio Angelo, coordenador de política internacional do Observatório do Clima, avalia que a política ambiental adotada por Trump coloca barreiras para que o Acordo de Paris seja cumprido. Para ele, o compromisso internacional se mantém vivo, mas a saída dos Estados Unidos das metas para redução das emissões prejudica o combate às mudanças climáticas.
Para o ambientalista, “o próprio fato de Trump ter sido eleito basicamente enterra a meta do Acordo de Paris de estabilizar o aquecimento global em 1,5 ºC. Porque, para estabilizar em 1,5 ºC, seria necessário reduzir as emissões em 43% nos próximos cinco anos. Isso, com os Estados Unidos, já era praticamente impossível do ponto de vista político” enfatiza Claudio Angelo.
“Com Trump dizendo: ‘Eu não só não vou cumprir as minhas regras, como vou sair do Acordo de Paris e tentar recarbonizar a minha economia’, não há matemática que permita estabilizar o aquecimento global nesse cenário”, complementa o coordenador de política internacional do Observatório do Clima.
André Guimarães, diretor executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), pontua que o mundo tem ado por uma série de crises climáticas e a decisão de retroagir nesta questão por parte de Trump deverá agravar o cenário como um todo.
“Estamos diante de um agravamento dos impactos das mudanças climáticas, com aumento de temperatura e eventos extremos amplificados. A desidratação dos EUA em relação às metas climáticas é uma péssima notícia para o clima, para uma agenda já em atraso e com pouca ambição. E no momento em que deveríamos aumentar essa ambição, cerca de 20% a 25% das emissões do planeta Terra, vindas dos EUA, saem da mesa de discussão”, explica André Guimarães.
Trump também anunciou o avanço da exploração de reservas de petróleo nos Estados Unidos. Segundo ele, a medida visa fomentar a indústria automobilística norte-americana com carros a combustão.
“Com as minhas ações, nós vamos finalizar todos os novos acordos verdes, mantendo o meu plano secreto para bater recorde da indústria automobilística na América. Em outras palavras, vocês poderão comprar o carro que quiserem, vamos construir automóveis na América novamente, num ritmo que ninguém nem podia imaginar há alguns anos, graças aos trabalhadores automobilísticos da nossa nação”, disse o presidente dos Estados Unidos.
Claudio Angelo reforça que a ideia de Trump de investir em mais combustíveis fósseis vai contra a economia mundial, que tem cada vez mais avançado a favor da energia renovável, com políticas de fomento à transição energética.
Ele destaca, por exemplo, a empresa Tesla Motors, do bilionário Elon Musk, que produz veículos elétricos. Musk ganhou um cargo no novo governo Trump no Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês).
“A economia real, ela fornece os freios e contrapesos a esse esforço de recarbonização que o sistema político americano não conseguiu fornecer”, defende Claudio Angelo. “Você espera que os carros americanos que fazem 5km com litro vão competir no mercado internacional em posição de vantagem em relação aos carros híbridos chineses que fazem 1000km com um tanque? Não vão”, exemplifica.
O setor do transporte é o principal emissor de gases de efeito estufa dos Estados Unidos, com 28% do total emitido pelo país, conforme o último inventário da Agência de Proteção Ambiental (EPA) do país.
Com promessas consideradas retrógradas na agenda ambiental, Trump conta com o apoio do Congresso dos Estados Unidos, com maioria republicana, do partido do novo presidente norte-americano.