Os prós e contras para o Brasil na guerra comercial entre China e EUA
Economistas alertam para o risco de aumento da recessão na economia global, além de um cenário de instabilidade no comércio internacional
atualizado
Compartilhar notícia

A guerra comercial entre a China e os Estados Unidos (EUA) trouxe uma série de incertezas ao mercado global e não dá sinais de trégua. Nesta semana, os norte-americanos aumentaram para 125% a tarifa de importação sobre bens chineses, que responderam com taxas de 84% para produtos importados dos EUA.
O presidente republicano, por outro lado, decidiu, nessa quarta-feira (9/4), focar apenas na China e suspender temporariamente, por três meses, as tarifas recíprocas para outros países, além de fixá-las em 10% até lá. O quadro geral pode ser, ao mesmo tempo, negativo mas também gerar oportunidades positivas para o Brasil.
Tarifaço de Trump
- O “tarifaço” começou em 2 de abril, quando o presidente dos Estados Unidos, o republicano Donald Trump, anunciou o chamado “Dia da Libertação” — termo usado para a implementação de tarifas de importação recíprocas contra 117 países.
- As tarifas recíprocas entraram em vigor em 9 de abril. No entanto, Trump decidiu reduzir, por 90 dias, as taxas de todos os países afetados pelo “tarifaço” para 10%, enquanto aumentou as tarifas impostas à China.
- Em resposta às ameaças comerciais dos EUA, a China também elevou as tarifas contra produtos norte-americanos para 84%. A retaliação chinesa entra em vigor a partir desta quinta-feira (10/4).
Economistas consultados pelo Metrópoles alertam para o risco elevado de uma recessão da economia global, além de um cenário de instabilidade e “turbulência” no comércio internacional com o embate entre as grandes nações.
Eles entendem que a imposição de tarifas recíprocas pode influenciar a inflação brasileira, desvalorizar o real frente ao dólar e forçar o Banco Central (BC) a manter o ciclo de aumento da taxa de juros por mais tempo.
Por outro lado, a análise é que o quadro pode fazer com que o agronegócio brasileiro se fortaleça, além de abrir espaço para outros mercados, como a China. Além disso, os exportadores brasileiros de outros setores podem ser beneficiados com a abertura de novos espaços externos.
Embate eleva risco de recessão global
Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, alerta que “a retaliação chinesa eleva ainda mais o risco de recessão global”. O governo de Xi Jinping anunciou ações recíprocas em resposta à intensificação de medidas protecionistas de Donald Trump.
Ele destaca que o Banco Central terá dificuldade em reduzir a taxa básica de juros (a Selic), o que encarece o crédito e afeta o consumo da população. O BC sinalizou que o ciclo de aperto monetário (aumento dos juros) “não está encerrado”, mas a próxima elevação da taxa Selic “seria de menor magnitude” em relação às três altas de 1 ponto percentual consecutivas.
Para Lima, o cenário abre espaço para o agronegócio brasileiro ganhar mercado com a China ou com novos parceiros. “O Brasil pode ser um dos poucos beneficiados, se agir com inteligência”, pondera o analista.
Felipe Uchida, Head de análises da Equus Capital, explica que “a intensificação da guerra comercial com tarifas de ambos os lados cria um cenário de forte instabilidade no comércio global”.
Além de pressionar o real e encarecer importações, pode forçar o Banco Central a elevar os juros, avalia Uchida. “Empresas brasileiras que dependem de insumos importados sentirão o impacto imediato nos custos, mas aquelas voltadas à exportação ganham um fôlego competitivo com o dólar valorizado”, diz ele, acrescentando que “o saldo será de incerteza”.
Theo Braga, CEO da SME The New Economy, afirma que o comércio global entra em uma “zona de turbulência intensa”. “O dólar se valoriza com força, o que penaliza o consumidor brasileiro e pressiona ainda mais a inflação”, enfatiza.
Na opinião de Braga, os exportadores brasileiros podem “ganhar fôlego”, mas a sobrevivência nesse cenário cabe a uma logística robusta, planejamento e respaldo institucional.
Segundo Volnei Eyng, CEO da Multiplike, o embate entre EUA e China “acirra a instabilidade econômica global”. Ele ressalta que, no curto prazo, o Brasil pode se beneficiar da guerra entre os gigantes comerciais. Mas o mercado de crédito exige “cautela”.
“Para o mercado de crédito estruturado, o momento exige cautela: as empresas precisam reforçar caixa, rever riscos e estar preparadas para oscilações agressivas”, aconselha Eyng.