PCD, periférica e, agora, médica: conheça a história de Rithiele Souza
Após rápida difusão de um vídeo em que entregava o convite de formatura para a mãe, Rithiele mostra que sua história vai muito além do viral
atualizado
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O vídeo de uma estudante de medicina entregando o convite de formatura para a mãe viralizou nas redes sociais nos últimos dias. Por trás da cena comovente, está uma trajetória marcada por muita persistência e superação. Aos 30 anos, Rithiele Souza está prestes a virar médica, pela Universidade de Brasília (UnB), após ter abandonado os estudos ainda na adolescência para cuidar da irmã mais nova e ajudar no sustento da casa.
Criada em Sobradinho, região istrativa do Distrito Federal que fica a 24 quilômetros da Esplanada dos Ministérios, Rithiele interrompeu os estudos aos 12 anos. À época, a mãe engravidou, deu a luz e a jovem decidiu assumir os cuidados com a irmã recém-nascida. “Fui praticamente uma mãe para ela. Minha mãe trabalhava em padaria e chegava em casa só à noite. Eu cuidava da minha irmã o dia inteiro”, contou.
O abandono escolar também foi agravado por um quadro de depressão precoce, não compreendido naquele momento: “Com o tempo, a gente vai aprendendo o que são as doenças, a origem, vai sabendo que é depressão e não preguiça, né?” complementou Souza.
Anos depois, já adulta e com o apoio do então companheiro, que Rithiele decidiu retomar os estudos. Concluiu o ensino médio por meio da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e, em 2018, foi aprovada em odontologia pela UnB. Porém, mas o verdadeiro desejo sempre foi a medicina.
Rithiele tem paralisia cerebral hemiplégica, o que não a impediu de seguir adiante. O desejo de estudar medicina, surgiu inclusive, enquanto realizava procedimentos no Hospital Sarah Kubitscheck, por ter crescido rodeada por médicos e equipes de apoio. A estudante relata que foi uma das primeiras alunas da UnB a ingressar no curso por meio da cota destinada a pessoas com deficiência, aprovada no governo de Michel Temer, no final de 2016.
Durante a graduação, enfrentou não só os desafios acadêmicos, mas também dificuldades financeiras e pessoais. “Fiquei quase um ano sem ver minha família na pandemia. Minha mãe vendia marmitas e ou por muitas dificuldades. Eu mesma me mantinha com negócios pessoais”, disse.
Apesar da rotina pesada — entre aulas, família e trabalho informal — Rithiele se manteve firme. “Nunca fui uma aluna nota 10. Sobrevivi aqui dentro. Não vivi plenamente o curso. Mas nunca desisti”, conta. Além disso, atuou em projetos sociais, como o Consultório na Rua, que atende populações em situação de vulnerabilidade. Foi essa experiência, inclusive, que a marcou mais profundamente: “Me encantei. As histórias reais das ruas me tocaram muito”.
A cerimônia de formatura está marcada para agosto. Ao entregar o convite à mãe, as duas se emocionaram. O gesto, capturado em vídeo, rapidamente ganhou a internet. Mas, para Rithiele, a maior conquista vai além do diploma. “O que a moveu até hoje foi minha história, minha família, minha mãe. Tudo o que eu vivi me trouxe até aqui. A medicina é, antes de tudo, uma forma de retribuir”, celebra.
Hoje, prestes a virar médica, ela não tem dúvidas: quer continuar ajudando quem mais precisa. “Talvez eu vá para a clínica, talvez medicina de família… mas o que me chama mesmo é cuidar de gente. Principalmente dos que mais precisam”, finaliza.