Atropelamento de servidora: defesa de réu alega boa índole e acusação cita falta de socorro
Em depoimentos de testemunhas de defesa, familiares choram e citam caráter do réu. Acusação questiona sobre ele não ter acionado socorro
atualizado
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Após depoimentos técnicos, testemunhas de defesa e acusação deram declarações mais pessoais no julgamento do advogado Paulo Ricardo Moraes Milhomem, 39 anos. Ele é acusado de atropelar a servidora pública Tatiana Thelecildes Fernandes Matsunagana na porta da casa dela, no Lago Sul, após uma briga de trânsito. Nesta terça-feira (25/7), teve início o julgamento no Tribunal do Júri de Brasília.
O réu está preso preventivamente desde 25 de agosto de 2021, quando o crime ocorreu. Paulo Ricardo é acusado por tentativa de homicídio qualificado — por motivo fútil e uso de recurso que dificultou a defesa da vítima. Os advogados dele, no entanto, defendem que o motorista não teve intenção de atropelar Tatiana.
As oitivas de Tatiana e do marido dela, Cláudio Matsunaga, não puderam ser acompanhadas pela imprensa. As testemunhas da defesa falaram pela tarde, já com a audiência aberta ao público. Um dos depoimento mais longos da defesa foi prestado pela esposa do advogado Paulo Ricardo.
A mulher prestou esclarecimentos como informante, quando há relação de proximidade com a parte. Casada há 22 anos com o esposo, ela citou os primeiros contatos com ele após o atropelamento, por telefone, e deu sua versão sobre a índole do réu.
“Ele me ligou, falou: ‘Amor, acabei de atropelar uma moça’. Eu fiquei muito agitada, ele só falava: ‘Pelo amor de Deus, você sabe que eu nunca faria isso’. Disse que daqui a pouco ligava e desligou.”
Assista ao vídeo do atropelamento:
A esposa ainda argumentou que “o fato foi trágico para ambos os lados”. Outra testemunha ouvida foi uma amiga da mulher do réu, que, percebendo a agitação da colega naquela ligação com Paulo Ricardo, ligou para ele momentos depois do atropelamento para pegar mais informações.
Ela lembrou da ligação com o motorista. “Ele dizia: ‘Meu Deus, o que eu fiz? Atropelei uma mulher sem querer. Fiquei com medo, acabei saindo correndo, as pessoas estavam em cima de mim, vi o marido correndo atrás de mim”.
Questionada pela acusação se Paulo Roberto comentou sobre ter chamado os bombeiros ou acionado algum tipo de socorro, ela respondeu que não sabia. “Acredito que ele ligou para a esposa e para o advogado.”
A defesa também chamou uma representante de um projeto social para citar que o advogado colaborava com necessitados e a sogra do réu, que comentou que ele já se negou a atropelar uma cobra na estrada.
O julgamento
O início do julgamento estava previsto para as 9h, mas começou por volta das 10h20, com depoimento da vítima. Até as 11h, ela respondeu a perguntas de representantes do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT); de advogados da acusação; e da defesa do réu.
O perito criminal da PCDF, Alex Lima, que atuou como revisor das investigações deu informações como os detalhes de um laudo da corporação. O documento traz algumas conclusões.
Entre elas, ele aponta que “verificou-se que seria possível iniciar o processo de desaceleração do veículo antes do instante definido como o início da transposição”. Ou seja, segundo o laudo apresentado pela Polícia Civil do DF, o acusado poderia ter desacelerado o carro antes de ar por cima da vítima.
Outra conclusão mostra que, considerado o tempo médio de reação do motorista, a velocidade desenvolvida e o tempo que o veículo levaria para parar totalmente após o acionamento dos freios, já não seria possível evitar a colisão com a pedestre. A estimativa é de que o advogado dirigisse a uma velocidade média entre 18km/h e 21 km/h.
Já um perito particular contratado pela defesa de Paulo Ricardo, o engenheiro mecânico Márcio Montesani, criticou o laudo, chamando de “precário” e alegando que ele não leva em conta informações importantes, como para onde o motorista estaria olhando.
Ao todo, o julgamento conta com dez testemunhas, uma fala de Paulo Ricardo, o tempo de debate entre defesa e acusação e a decisão dos sete jurados.
Desde a prisão de Paulo Ricardo, a defesa do advogado entrou com diversos pedidos para tirá-lo da cadeia, mas a Justiça negou todos, em diferentes instâncias. Ele segue detido no 19º Batalhão de Polícia Militar, no Complexo Penitenciário da Papuda.