Após matar amigo, Lázaro comeu cuscuz e tomou café na casa do padrasto
Refeição foi feita entre os assassinatos de José Carlos e Manoel Desidério. Crimes ocorreram em novembro de 2008, em Barra do Mendes, na BA
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Enviados especiais a Barra do Mendes, Bahia – Era madrugada de segunda-feira, dia 17 de novembro de 2008, por volta das 4h40, quando Lázaro Barbosa de Sousa, após virar a noite bebendo cachaça e cerveja, dirigiu-se para uma casa em Melancia, zona rural de Barra do Mendes, na Bahia, e chamou o padrasto, Getúlio José de Souza.
O homem levantou-se da cama, abriu a porta e se assustou ao ver o enteado, que na época tinha 20 anos. Lázaro apontava o cano de uma espingarda socadeira, de cor amarelada, em direção ao padrasto.
O jovem estava prestes a cometer seu segundo homicídio naquela madrugada. Getúlio pediu para que o criminoso abaixasse a arma. Segundo relatos de vizinhos, ele falou “coisas de Deus” ao enteado.
Lázaro atendeu ao pedido. Em seguida, perguntou se tinha algo para comer, e Getúlio o convidou para entrar.
“Carlitinho já era, e tem mais pessoas para matar”, disse Lázaro ao padrasto, enquanto comia cuscuz e tomava café frio. Ainda temeroso, Getúlio perguntou se seria a próxima vítima, mas Lázaro negou e antecipou que ia matar “seu Manoel”.
Após o café, Lázaro pediu ao padrasto que não “abrisse o bico” e saiu pela porta dos fundos, com a espingarda nas costas. Três minutos depois, a comunidade de Melancia ouviu o segundo disparo.
Primeiro homicídio
Por volta das 4h, Lázaro havia atirado contra um amigo dele, José Carlos Benício de Oliveira, o Carlito, que morava em frente a uma igrejinha, também em Melancia. Ambos almoçaram juntos no dia anterior, e o criminoso voltou ao lar do colega à procura de Maria Antônia* (nome fictício).
A mulher se escondia após um homem, até então não identificado, tentar arrombar a casa dela. Acredita-se que a intenção dele era estuprá-la, pois a jovem morava sozinha com uma criança de 5 anos.
“Cadê Maria Antônia?”, perguntou Lázaro, de touca na cabeça, capanga (bolsa de couro) e a espingarda, ao chegar à casa de Carlito. Após direcionar a arma para os filhos e a mulher de Carlos, o criminoso ressaltou que não queria levar nada: nem televisão, nem DVD. Só queria Maria Antônia.
Foi quando Carlito, que estava amarrando o cachorro, voltou para casa e se deparou com o amigo. “O que é, Lázaro? O que é que tu quer uma hora dessa">
Sem meias-palavras, Lázaro virou-se, puxou o fecho da espingarda e disparou contra o amigo, à queima-roupa. O tiro atingiu o coração de Carlito, deixando um furo de 3 centímetros de diâmetro no peito dele. A vítima colocou a mão esquerda no peito, deu quatro os devido ao impacto da bala, e caiu de bruços no chão vermelho do sertão baiano, com os pés cruzados. Os detalhes constam em processo ao qual o Metrópoles teve o.
Lázaro esperou o amigo morrer. Ao vê-lo finalmente sem vida, saiu caminhando do local e fugiu pela mata.
“Bota a cabeça pra fora”
A esposa e os filhos de Carlito desesperaram-se. Imediatamente, um deles foi até a casa do irmão de Maria Antônia, onde a mulher havia sido acolhida após ter a residência quase arrombada, a fim de avisá-la que Lázaro estava atrás dela.
Depois de matar Carlito, Lázaro ou em frente à casa do colega de infância Tomas Gomes Martins de Sousa. Um dia antes, no domingo à tarde, os dois haviam brigado debaixo de uma árvore, perto de uma escola em Melancia.
Tomas acusou Lázaro de pegar um rádio e não devolvê-lo. Ao resistir à acusação, o criminoso teria dado uma gravata no pescoço do amigo. Tomas conta que Lázaro só o soltou após levar uma cotovelada na barriga. O assassino também o insultou e prometeu mostrar “como é que homem faz”.
Talvez, por isso, foi para a casa de Tomas no dia seguinte, depois do primeiro assassinato. Com a espingarda na mão, gritou, do lado de fora:
“Tomas, bota a cabeça pra fora, se tiver coragem.” Tomas não botou; estava dormindo. Lázaro repetiu a provocação uma, duas vezes. Após não ser correspondido, seguiu viagem.
Eliene Martins de Sousa, tia de Tomas, estava acordada quando Lázaro ou em frente à casa deles e falou para que o colega colocasse a cabeça para o lado de fora. Ela achou estranho e não abriu a porta. Depois, contou tudo ao sobrinho.
Segundo homicídio
A terceira parada, após tentar arrombar a casa de Maria Antônia, foi na residência do padrasto, onde comeu cuscuz e tomou café.
Depois de sair da casa de Getúlio, Lázaro foi atrás de Manoel Desidério Silva. No local, quem primeiro recebeu o criminoso foi Edjalma Desidério de Novais, filho de Manoel.
“Eu quero é seu pai”, disse o assassino, que estava em uma cerca perto da residência.
Logo após, um homem de cabelos grisalhos, olhos castanhos claros, vestindo calça azul e camisa verde atravessou a porta. Era Manoel. Com a arma em punho, Lázaro pediu para que Edjalma, que estava a cerca de um metro atrás do pai, se afastasse. O filho da vítima pediu novamente que o criminoso abaixasse a espingarda. Sem sucesso.
Edjalma se afastou um pouquinho, e Lázaro, com um “adeus”, atirou contra Manoel.
A bala atingiu o peito da vítima. Manoel foi socorrido pelos familiares e levado para o Hospital de Barra do Mendes, mas não resistiu.
Lázaro fugiu e ficou nove dias foragido, até decidir entregar-se à polícia, em 25 de novembro de 2008. Na delegacia, itiu ter sido o autor dos dois assassinatos. Explicou que matou Manoel porque o homem o teria acusado “injustamente” de roubar, na roça dele, melancia e mandioca, além de dar ossos para o gado comer e morrer.
Familiares da vítima ouvidos pelo Metrópoles relatam, porém, que Lázaro estaria insatisfeito porque Manoel o acusou de ter abusado sexualmente do neto dele, quando o criminoso tinha 10 anos.
Fuga
Durante a fuga, Lázaro invadiu casas – até tomou banho em uma delas –, roubou alimentos, água, roupas, uma arma e um carro.
O Metrópoles teve o com exclusividade ao depoimento do maníaco realizado na delegacia de Irecê, na Bahia, em 26 de novembro daquele mesmo ano, um dia após ele se entregar. Lázaro detalhou o o a o da fuga que mobilizou a polícia baiana à época.
Hoje, 13 anos depois, empreende outra escapada. Forças de segurança de Goiás e do Distrito Federal entraram, nesta quarta-feira (23/6), no 15º dia de buscas, na região de Girassol, em Goiás.
O fugitivo é acusado de cometer uma série de crimes – entre os quais, uma chacina que vitimou quatro pessoas da mesma família, no Incra 9, em Ceilândia, no dia 9 de junho deste ano.