Adriana Villela acredita que Francisco Mairlon seja inocente
Durante seu julgamento, acusada de triplo homicídio afirma que tribunal condenou inocente e deixou um suspeito de fora do caso
atualizado
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Adriana Villela, denunciada pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) como sendo a mandante do triplo homicídio da 113 Sul, acredita que um dos três condenados pelo crime é inocente. Ela declarou em frente aos sete jurados acreditar que Francisco Mairlon não esteve envolvido na morte de José Guilherme Villela, Maria Villela e Francisca Nascimento Silva.
“Tenho fortes suspeitas de que é apenas uma pessoa inocente que foi colocada nisso para dizer que o Leonardo (Campos Alves) estava fora da casa dos meus pais. Ele foi preso, aproximadamente, com 19 anos. A narrativa que inclui o Francisco Mairlon neste caso é falsa”, apontou Adriana.
Leonardo é ex-porteiro do edifício onde moravam duas das vítimas. Já a arquiteta é acusada de pagar a ele R$ 60 mil para matar os pais e a empregada do casal. Leonardo, por sua vez, teria prometido dar R$ 10 mil a Francisco Mairlon Barros Aguiar para executar o crime. Sobrinho de Leonardo, Paulo Cardoso também foi acusado pelo esfaqueamento do trio. Os três foram condenados e estão presos.
Adriana cita o lavrador Neilor Teixeira da Mota, tio de Paulo, que chegou a ser ouvido em Montalvânia por policiais do DF, como suspeito. “Não sei dizer se Francisco participou de alguma maneira deste caso, mas posso dizer, com quase 85% de certeza, que este tribunal já condenou pelo menos um inocente, enquanto deixou [de lado] o Neilor, que, sabidamente, é um cúmplice muito provável”, teorizou a acusada.
“Deixou Neilor fora do crime para usar como testemunha de acusação e incriminou o Francisco Mairlon, que parece ser apenas um vizinho do Leonardo ou do Paulo”. Nesse momento, o juiz Paulo Rogério Santos Giordano interrompeu, explicando: “Vamos chegar lá”.
Investigações
No depoimento desta terça-feira (01/10/2019), Adriana Villela faz outras acusações. Por exemplo, contra a delegada Martha Vargas, que estava à frente do caso na época. Ela conta que estava na sala da policial quando ouviu o telefone tocar. “A doutora Martha atendeu dizendo: ‘Era um jornalista querendo falar comigo, e eu vou usar a imprensa ao meu favor. Vou dizer que foi (crime) bárbaro e pedir para quem tiver informações enviá-las'”, lembrou.
“Foi o pontapé inicial errático e errôneo que fez a doutora Martha criar um palheiro em vez de procurar uma agulha. Em vez de procurar as pistas, dizia que o apartamento tinha sido completamente limpo, não havia nenhuma impressão digital. Depois, soubemos que tinham 300 e não sei quantas impressões”, frisou Adriana.
Paulo Rogério Santos Giordano, magistrado do caso, questionou quando Adriana disse à polícia sobre suspeitas de que Leonardo Campos Alves, ex-porteiro do prédio e condenado pelo crime da 113 Sul, estaria envolvido no caso. Ela respondeu que, na semana seguinte ao triplo homicídio, um pintor identificado como Denir ressaltou estranheza com Leonardo.
“Ele disse: ‘Você lembra daquele ex-porteiro Leonardo que foi demitido? Aquele cara é muito esquisito. Dizia que o doutor Guilherme deveria ter 300 imóveis, pela quantidade de IPTU que recebia”, pontuou. Adriana destacou que os pais não eram proprietários de tantos bens. “Eles não tinham 300 imóveis. Acho que eles e o escritório deveriam ter 50 imóveis. Teria que fazer a conta, eu mesma nunca fiz”, emendou.
A acusada salientou, ainda, não ter dúvidas de como os assassinos entraram no apartamento. “O lugar que esses caras deveriam estar era na porta da escada, exatamente perto do lugar onde entraram, a porta dos fundos. Não precisa gostar de investigação policial para fazer essa dedução, muito lógica. É muito fácil ficarem ali tocaiando e esperando”.
Os dias do crime
Antes da pausa para o almoço, Adriana contou como foi a rotina dela no dia do crime (28/08/2009), uma sexta-feira, e o fim de semana posterior. Deu álibis para todos os momentos, como telefonemas, curso e jantares.
‘Talvez, hoje, eu não estaria aqui e vocês estariam julgando o meu irmão e a minha filha, ‘naturais herdeiros’, por um homicídio quádruplo”, pontuou a arquiteta, sugerindo que poderia ter sido uma das vítimas dos criminosos.
Durante o recesso, Adriana comeu em uma sala reservada com um servidor do Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios (TJDFT). Ela não pode ter contato com ninguém, inclusive com a defesa. O julgamento, nesta terça-feira (01/10/2019), é acompanhado por 224 pessoas no plenário do Tribunal do Júri de Brasília. O local está lotado – foram distribuídas cerca de 400 senhas para o ao órgão.
Na continuação, o magistrado pediu para Adriana relatar o que ocorreu após o almoço com a filha, Carolina, na segunda-feira (31/08/2009), dia em que os corpos foram encontrados. A acusada disse que não tinha hábito de preocupar-se com os pais. “Eles tinham plena autonomia, sempre foram pessoas fortes, tranquilas e que faziam a vida sozinhas”.
“São feitas diversas interpretações de que eu tive um padrão para demorar a chegar à casa deles. Isso só pode ser dito por alguém que não observou o que estava ocorrendo com a gente”, assinalou.
Finanças
A questão financeira e a carta em que a mãe de Adriana critica a acusada foram os principais questionamentos do juiz Paulo Rogério Santos Giordano para a ré.
Adriana contou que recebia uma mesada de José Guilherme e Maria Villela no valor R$ 8,5 mil em dinheiro, além de ajuda com custos fixos com carro e apartamento, plano de saúde e despesas extras de viagem. Com a correção monetária, o valor seria, hoje em dia, de R$ 21 mil.
“O dinheiro era muito mais que suficiente. Sempre honrei receber isso”, ressaltou Adriana. O questionamento do magistrado se deu com o objetivo de completar uma dúvida anterior dele, se os pais aceitavam ou queriam que a filha assumisse uma profissão mais rentável.
“Eu vi meus pais saírem do zero. Cresci com eles e os vi fazerem concurso e conquistarem tudo o que conquistaram. Eles queriam que eu tivesse um cargo público que me desse estabilidade e fosse artística apenas como hobby. Mas eu dizia que queria ser artista e não outra coisa”, explicou Adriana.
Em uma das respostas, a acusada começou a chorar, dizendo que os pais realmente não a apoiavam na carreira escolhida. “É isso que eu tenho para oferecer para o mundo.” E disse aos pais: “Vocês já ganham muito mais do que eu e meu irmão precisamos. Tenho alma de artista e quero ser artista”.
Olho nos jurados
Durante toda a explicação, Adriana não tirou os olhos dos jurados. “Nós tínhamos um relacionamento amoroso, mas também havia conflitos. Minha mãe não gostava do jeito que eu me vestia. Nem de que discordassem do que ela dizia. Ela era frágil e insegura e se tornou forte pelas perdas que teve.”
Segundo Adriana, era comum, quando jantavam juntos, Maria Villela olhá-la de cima a baixo, com olhar crítico sobre o modo como se vestia. “Isso era motivo de discórdia. Eu só queria ser amada e respeitada pelo jeito que eu sou.”
E apontou que o texto havia sido obtido de forma ilegal. “Essa carta foi apreendida ilegalmente dentro do escritório de advocacia. Foi eu mesma que assinei para que ela pudesse ser apresentada aqui, pela acusação.” Novamente, com olhar fixo aos jurados, Adriana se dirigiu a eles: “Espero que vocês me ajudem a mostrar o que acontece nos porões da polícia”.
Relacionamento
Neste nono dia do julgamento que é o mais longo na história da Justiça brasiliense, as primeiras palavras de Adriana foram sobre o relacionamento que mantinha com os pais e como eles a viam. “O meu pai e minha mãe sempre foram pessoas com as quais eu sempre pude contar e, ainda hoje, aqui, eu conto com eles. Até pelos meus advogados”, afirmou Adriana Villela.
“Certa vez, eu disse a eles que meu desejo e minha maior ambição é que meu trabalho criativo ajudasse muitos a melhorar de vida. E eu fiz isso um pouco. Até que, de repente, a vida me deu um tropeção e meus pais foram assassinados.”
De acordo com Adriana, apesar de ser “uma filha bastante rebelde”, o pai irava isso nela. “Sem dúvida, devo ter desrespeitado eles algumas vezes na minha vida. Mas, especialmente quando esse crime aconteceu, a minha família vivia um momento de muita felicidade. Eu havia acabado de terminar o meu mestrado e meu pai dizia que finalmente eu estava no meu lugar.”
Sem respostas à acusação
A defesa de Adriana Villela informou que ela não vai responder nem ao MPDFT nem aos assistentes de acusação. Foi um pedido de ordem assim que iniciou a sessão. A arquiteta só falará com juiz, defesa e jurados. O procurador Maurício Miranda registrou protesto de que o contraditório fica prejudicado com a decisão.
Sobre o assunto, Kakay se posicionou da seguinte forma: “Nós entendemos que a prova está pronta e ela vai responder quem tem que responder. Para as outras partes, ela não vai responder. Pode haver tumulto e isso é ruim para o processo. Isso é uma orientação técnica”, argumentou.
O promotor Marcelo Leite Borges lamentou a postura da defesa, no início do interrogatório, de não responder às questões da acusação. “Não perguntar vai atrapalhar, sim, a análise dos jurados”.
Caso
Segundo a acusação, Adriana contratou Leonardo Campos Alves, porteiro do edifício onde moravam os pais, para matar o casal de advogados e a empregada deles por R$ 60 mil. Ele, por sua vez, teria prometido dar R$ 10 mil a Francisco Mairlon Barros Aguiar para executar o crime. Sobrinho de Leonardo, Paulo Cardoso também foi acusado pelo esfaqueamento do trio. Os três foram condenados e estão presos.
Advogado de Adriana, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, afirmou à imprensa que os depoimentos selecionados pela acusação são “quase um ato desesperado do Ministério Público”. “Entendo que é desleal, porque deveria ter explicado minuciosamente que são depoimentos posteriores à confissão”, salientou.
Os defensores da arquiteta também reproduziram algumas mídias e documentos, como um depoimento no qual o irmão de Adriana, Augusto Villela, fala à PCDF. “A Adriana tem conflitos normais com a mãe. A tônica dos conflitos não era dinheiro”, frisou. A arquiteta e jornalista é acusada de ser a mandante do triplo homicídio de José Guilherme, Maria Villela e da empregada do casal, Francisca Nascimento Silva. Eles foram mortos a facadas – 73 no total –, em 28 de agosto de 2009.