Piano ao cair da tarde: o Hamas sacode Celso Amorim. Sacode bem demais

Precisei ler duas vezes para me certificar de que eu não estava tendo um derrame cerebral: o ideólogo para assuntos internacionais de Lula, o impávido colosso intelectual Celso Amorim, enviou uma mensagem à Folha para dizer o seguinte sobre a comparação entre Hitler e Israel feita por Lula:

“A fala do Lula sacudiu o mundo e desencadeou um movimento de emoções que pode ajudar a resolver uma questão que a frieza dos interesses políticos foi incapaz de solucionar.”

Movimento de emoções é o que Lula causa nos seus áulicos, e eu não tenho nada a ver com a forma com a qual cada um obtém prazer.

Imaginar, no entanto, que Lula “sacudiu o mundo”é levar o movimento de emoções ao campo do delírio. Até onde me foi dado ver, a imprensa internacional não deu destaque à fala do presidente brasileiro e ela teve muito mais repercussão negativa do que positiva no mundo e neste planeta aqui.

Quanto a Israel, não tem mais volta. O chanceler israelense, Israel Katz, voltou à carga, hoje, exigindo outra vez um pedido de desculpas de Lula e afirmando que ele “cospe nos judeus brasileiros”. Posso garantir que os judeus brasileiros estão se sentindo cuspidos pelo presidente da República.

Quem ficou muito sacudido foi o Hamas, que elogiou a fala de Lula. Ser elogiado por um grupo terrorista é outra medalha no peito do chefão petista.

“Essa declaração vem no contexto de uma descrição precisa daquilo a que nosso povo está exposto e revela a grandeza do crime sionista cometido com cobertura e apoio aberto do governo norte-americano liderado pelo presidente Biden”, disse o Hamas no Telegrama. É uma gente fofa.

Tudo continua como dantes. No campo da frieza dos interesses políticos, os Estados Unidos vetaram pela terceira vez, no Conselho de Segurança da ONU, um projeto de resolução de cessar-fogo imediato em Gaza, porque o texto complicaria ainda mais as negociações em andamento para obter uma trégua e a libertação de outra leva de reféns na mãos dos terroristas do Hamas. Em seu lugar, propôs um texto alternativo, mais de acordo com o momento da guerra.

Os americanos e qualquer um com um mínimo de bom senso não têm dúvida existencial sobre o Hamas. Sabem que é um grupo terrorista que não quer a criação de um estado palestino que conviva com Israel. Que quer exterminar Israel e os judeus no Oriente Médio, dentro da única definição existente de genocídio, crime que não permite licenças poético-jornalísticas. Que quer implantar um estado teocrático onde hoje estão os territórios palestinos e Israel, nos moldes do regime dos aiatolás iranianos, o seu grande patrocinador, assim como do Hezbollah libanês. Que não haverá paz e dois estados enquanto o Hamas existir.

O massacre perpetrado em 7 de outubro mostra o engodo no qual muitos caíram de que o Hamas mudou para melhor, até porque seria impossível mudar para pior — o que realmente aconteceu.

O ideólogo Celso Amorim é um dos responsáveis por divulgar esse engodo. Ele assina o prefácio do livro Engajando o Mundo – A construção da Política Externa do Hamas, de autoria de um certo Daud Abdullah, ideólogo do islamismo nascido no Caribe e que mora no Reino Unido (quando podem, a primeira coisa que ideólogos do islamismo fazem é ir morar na Europa Ocidental ou em alguma ditadura rica do Oriente Médio). O livro foi lançado no ano ado.

No prefácio, o ideólogo do petismo internacional, Celso Amorim, diz que o Hamas “apresenta evolução em sua dimensão internacional” e pode “desempenhar papel central na restauração dos diretos palestinos”. 

A única coisa que o grupo terrorista restaurou, em 7 de outubro, foi o direito inalienável de Israel de bombardear Gaza para tentar destruir os inimigos. Mas o movimento de emoções que o Hamas causa em Celso Amorim é irresistível. Sacode bem demais.