Eduardo Bolsonaro não está traindo o Brasil nos Estados Unidos
Eduardo Bolsonaro traiu os paulistas que o elegeram deputado, isso sim, porque nunca foi verdadeiro representante dos interesses de SP
atualizado
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Leio na imprensa que ministros do STF disseram que Eduardo Bolsonaro está traindo o Brasil ao articular junto ao governo de Donald Trump e a parlamentares americanos a aplicação de sanções contra o ministro Alexandre de Moraes.
Na minha opinião, a traição de Eduardo Bolsonaro é aos paulistas que o elegeram deputado federal: ele nunca foi um verdadeiro representante dos interesses de São Paulo em Brasília.
Não acho que o ministro Alexandre de Moraes seja o Brasil. Nem qualquer colega seu do STF. Nem Jair Bolsonaro. Nem Lula. Ninguém é, na verdade. Tomar partes pelo todo, em relação ao país, é coisa de torcedor esportivo, de fãs do cinema nacional e dos diversos patriotas de ocasião, que recorrem ao nacionalismo como o seu derradeiro refúgio.
Eduardo Bolsonaro não trai o Brasil ao tentar que políticos americanos pressionem o STF a aliviar a barra para o seu pai, punindo o ministro, assim como o então advogado Cristiano Zanin, hoje ministro da corte, não traiu o Brasil ao denunciar no exterior, junto a políticos também, procuradores e juízes brasileiros pela prática de lawfare contra Lula.
Não estou dizendo que um e outro fizeram certo. Estou afirmando que não há crime de lesa pátria nisso. Recorrer a pressões políticas externas não significa atentar à soberania nacional, aos direitos fundamentais de todos os cidadãos brasileiros ou qualquer coisa que o valha. Nada que seja equivalente a pedir secretamente à ditadura chinesa que censure a liberdade de expressão no Brasil, para ficar em exemplo recente. Aí, sim, podemos pensar em traição ao país.
O deputado Lindbergh Farias, sempre naquela excitação de diretório estudantil que lhe é peculiar, pediu a prisão preventiva de Eduardo Bolsonaro, porque o deputado estaria agindo contra a soberania brasileira, trabalhando para abolir o Estado Democrático de Direito e buscando coagir juízes no curso do processo.
Você pode achar moralmente errado denunciar instituições democráticas brasileiras ou representantes dessas instituições brasileiras no exterior. Pode até achar que os pessoalmente atingidos deveriam recorrer ao Código Penal para deter os seus detratores, nos artigos dedicados a crimes contra a honra.
Eu, por exemplo, achei errado o que o então advogado Cristiano Zanin fez com a sua tese de lawfare, assim como acho absurdo o que o PT faz ao espalhar por aí que o impeachment de Dilma Rousseff foi golpe. Mas criticar ou até mesmo difamar e caluniar juízes e políticos brasileiros não significa atentar contra a independência do país ou tentar abolir o Estado Democrático de Direito.
Não há força estrangeira desembarcando no Brasil para forçar uma autoridade a tomar decisões. E certamente Alexandre de Moraes não se sentirá obrigado a mudar de veredictos porque o governo americano cancelou vistos ou adotou retaliações financeiras contra ele.
Eduardo Bolsonaro traiu os eleitores paulistas como deputado, mas não está traindo o Brasil como filho de Jair Bolsonaro, com todas as implicações deletérias desse fato, tenha o rapaz sucesso ou não nas suas articulações americanas.