Caso MC Poze gera debate sobre arte periférica e apologia ao crime
Prisão recente do cantor carioca MC Poze do Rodo por ligação com o Comando Vermelho tem movimentado a web
Compartilhar notícia

A recente prisão do cantor e compositor carioca MC Poze do Rodo, suspeito de apologia ao tráfico e envolvimento com a facção Comando Vermelho (CV), gerou uma onda de manifestações acerca do tratamento recebido pelo funkeiro e da criminalização da estética periférica. Além das letras das músicas, que viraram um tópico em torno da prisão, o ocorrido levantou debates sobre como características físicas e escolhas de vestuário ajudam a rotular pessoas, o que pode reforçar estereótipos.
Após quatro dias preso, o artista teve a soltura ordenada pela Justiça. Continue lendo para saber mais!

Marlon Brendon Coelho Couto Silva, nome de Poze, foi preso temporariamente na última quinta-feira (29/5) após investigações da Polícia Civil do Rio de Janeiro apontarem relação dele com a facção Comando Vermelho. Nessa segunda-feira (2/6), a Justiça do Rio de Janeiro revogou a prisão ao conceder habeas-corpus.
De acordo com a polícia, Poze realizava apresentações em áreas dominadas pelo CV e, em shows, usava joias que, supostamente, faziam alusão à facção. Já para parte do público que acompanha a carreira do funkeiro, e para a própria defesa do artista, as acusações de apologia “não fazem sentido”.
“Muitos músicos, atores e diretores têm peças artísticas e fazem relatos de situações que seriam crimes, mas nunca são processados, porque se tratam justamente de obras de ficção”, argumenta a defesa em nota divulgada nas redes sociais, acrescentando que a prisão dele ou de outro MC nesse contexto seria “criminalização da arte periférica, uma perseguição, mais um episódio de racismo e preconceito institucional”.

As imagens do momento da prisão, com o cantor sem camisa e descalço, geraram críticas sobre o tratamento diferenciado dado a pessoas brancas e negras de origem periférica, incluindo comparações com outras prisões de figuras midiáticas. Artistas como Oruam, MC Maneirinho, Deize Tigrona e Coruja BC1 saíram em defesa de Poze nas redes sociais.
“Brancos ricos ostentam armas, drogas e poder — e viram memes, influencers, empresários. O tratamento jurídico é um espelho do país: seletivo, racializado, classista. O sistema não combate o crime — combate o povo preto que ousa ser protagonista”, diz uma postagem de Coruja BC1 sobre o assunto no X (antigo Twitter), com mais de 16 mil visualizações.
No contexto da estética periférica, o uso de correntes de ouro, bonés e camisas de futebol muitas vezes é interpretado socialmente como um sinal de criminalidade. Isso representa, contudo, uma cultura que, apesar de lidar de forma estereotipada, não se baseia na transgressão da lei.