Em filme, FHC detalha relacionamento “complexo” com Lula
Documentário O Presidente Improvável estreia nos cinemas na próxima quinta-feira (31/3)
atualizado
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Perto de completar 91 anos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso considera ter um relacionamento “complexo” com o ex-presidente Lula, mas sem paralelo com o ódio visto na política nos últimos tempos. A análise é feita pelo tucano no documentário O Presidente Improvável, dirigido por Belisário Franca e que estreia nos cinemas na próxima quinta-feira (31/3).
Em 1989, Lula era um dos candidatos da primeira eleição presidencial direta após a ditadura militar. FHC era senador e seu partido, o PSDB, havia lançado o também senador Mário Covas. No segundo turno entre Lula e Fernando Collor, FHC e Covas foram a um comício do petista com uma preocupação em particular.
“Eu e o Covas fomos a um comício do Lula. Sabe qual era nossa principal preocupação? A vaia. Porque naqueles tempos, eles [petistas] vaiavam todo mundo que não fosse do PT. Não fomos muito vaiados, fomos um pouco (risos)”, afirmou Fernando Henrique, acrescentando:
“Não tínhamos nenhuma expectativa de governar juntos, porque era impossível. O PT tinha uma visão muito deles. É impossível negociar. E assim foi feito. Foi dado o apoio. Eu votei no Lula nessa ocasião.”
Cerca de uma década depois, no fim dos anos 1990, o então presidente FHC recebeu Lula e o então governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque, no Palácio da Alvorada. Cristovam, amigo em comum de ambos, surpreendeu-se.
“Começamos a tomar uísque e o Cristovam disse: ‘Vocês parecem dois velhos amigos'”, ao que FHC respondeu: “Ué, mas nós sempre fomos”. Mais tarde naquela noite, Fernando Henrique falou a Lula: “Vou te mostrar o palácio, porque um dia você vai morar aqui”. Reservadamente, o tucano pensava o oposto: “Eu não acreditava que ele fosse”.
Já em 1º de janeiro de 2003, quando Lula derrota o tucano José Serra e recebe de FHC a faixa no Palácio do Planalto, Fernando Henrique se recorda da despedida após a cerimônia:
“O Lula me levou até a porta, pelos fundos, onde a gente sai, me deu um abraço apertado, encostando o rosto, e disse: ‘Você deixa aqui um amigo’. Bom, daí em diante, foi só pau em mim (risos).”
Naquela agem de gestão entre PSDB e PT, Fernando Henrique inaugurou o modelo de governo de transição, que é usado até hoje. “Aquela transição serviu simbolicamente para mostrar que, apesar de adversários, você não quer matar o outro”, disse FHC.
Sobre os dias de hoje, quando Lula se prepara para tentar voltar ao Planalto e derrotar Jair Bolsonaro, disse FHC: “Precisamos acreditar de novo, injetar de novo uma crença de que dá para fazer”.
O Presidente Improvável tem roteiro de Lyana Peck e Belisário Franca, e produção da Giros Filmes. Entre os participantes das conversas com FHC, estão o ex-presidente americano Bill Clinton, contemporâneo de presidência; o cantor Gilberto Gil; o sociólogo Manuel Castells; e o historiador Boris Fausto.