Hospital pagava 6% a operador para captar emendas parlamentares
Polícia Federal encontrou notas fiscais emitidas por captador ao hospital Ana Nery, em Santa Cruz, no Rio Grande do Sul
atualizado
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A Polícia Federal encontrou no celular de um dos investigados na operação Emendafest um contrato que mostra o pagamento pelo hospital Ana Nery de uma porcentagem para um operador captar emendas parlamentares.
O hospital fica em Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, e entrou na mira da PF após os rees indicarem desvios em valores de emendas parlamentares.
Segundo a PF, no celular de Cliver Fiegenbaum, apreendido em março de 2024 na operação Rêmora, foram encontradas notas fiscais emitidas pela CAF Representação e Intermediação de Negócios por serviços prestados ao hospital.
O objeto das notas, segundo a PF, era “Referente captação de recursos através de indicações de emendas parlamentares”.
Na decisão que autorizou buscas contra investigados nes quinta (13/2), o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, afirma que havia “como contrapartida o pagamento de comissão de 6 (seis) por cento sobre o valor” da emenda captado.
“No caso em análise, até o momento, foram identificados três pagamentos pelo Hospital por serviços de captação de emendas parlamentares que totalizam R$ 509.400,00 (quinhentos e nove mil e quatrocentos reais)”, diz Dino na decisão.
Segundo a PF, as tratativas para captação e indicação de emendas aponta para a existência de uma organização criminosa que direcionava “emendas parlamentares e se apropriava de parte desses recursos públicos”.
Como mostrou a coluna, Lino Furtado, assessor do deputado federal Afonso Motta (PDT-RS), é um dos alvos da operação Emendafest.
A PF encontrou conversas entre Furtado e Cliver Fiegenbaun, que seria o captador de recursos do hospital.
Segundo a PF, um áudio enviado na conversa é revelador e indica que o assessor do parlamentar receberia valores de Cliver relacionados a emendas.
“Os pequenos eu posso complementar e botar mais 10 em cima. Pra tu confiar na parceria e eu quero continuar com a tua parceria ano que vem”, diz Cliver em aúdio em 10 de janeiro do ano ado.
Ainda no áudio, ele afirma que era “400, faltou 15, te levo mais, mais 25”.
Os rees, segundo o áudio, era para não “estragar a parceria”.
“Isso eu tenho do meu, aí eu nem envolvo ninguém, porque eu não quero estragar a parceria e tu vai ver que nós não vamos ratear contigo”, diz Cliver em áudio
Para a PF, o áudio mostra que a parceria entre os dois, firmada em 2023 com a promessa de envio de emendas, “executada (e em andamento) em 2024, estaria com a promessa de continuar no ano seguinte, ou seja, em 2025.”
Defesa
A coluna entrou em contato com Cliver Fiegenbaum, que confirmou a cláusula de comissão de 6%, mas negou qualquer tipo de irregularidade na prestação de serviços.
Ele disse que foi pego de surpresa com as acusações de que estaria envolvido com propina.
“Eu acho que o termo usado, propina, não está correto. O contrato é público, tem emissão de nota fiscal, declaração de imposto de renda. Ele é a título de compensação de trabalho. Eu realmente estou surpreso por esse termo de propina”, afirmou.
Segundo ele, seu trabalho se resumia em conversar com deputados para apresentar as necessidades do hospital, na intenção de que fossem liberadas emendas.
Ele diz que no momento oportuno, irá disponibilizar as suas contas e de sua empresa para que a investigação possa comprovar que não houve irregularidades na prestação do serviço ao hospital.
“Volto a insistir: não teve negociação nenhuma com deputado”, afirma.
Cliver também disse que não mantinha nenhuma relação pessoal com Lino e que o conheceu “na andança de procurar deputados” e que falava com ele durante suas visitas a Brasília sobre a necessidade de emendas para o hospital.
Em nota, o hospital Ana Nery disse que a instituição tomou conhecimento “com surpresa” da operação EmendaFest e que, desde então, tem colaborado com as autoridades, ” fornecendo prontamente todos os documentos solicitados e colocando-se à disposição para contribuir com o esclarecimento dos fatos”.
“O Hospital Ana Nery reitera seu compromisso com a ética e a legalidade e seguirá colaborando com as investigações para que sejam conduzidas com a máxima celeridade e transparência”, afirmou.