Caso de candidato no Guarujá mostra entrada do PCC na política, diz PF
Investigadores apontaram relação de ex-candidato a prefeito do Guarujá com integrante da facção envolvido no tráfico internacional de drogas
atualizado
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Uma operação da Polícia Federal (PF) que mirou um político em Guarujá mostra, segundo os investigadores, a capacidade de inserção do PCC na política e em órgãos públicos da baixada santista, no litoral paulista.
O alvo foi Claudio Fernando Aguiar, ex-candidato a prefeito do Guarujá pelo partido Novo e que supostamente tinha ligação com integrante da facção criminosa. Ele entrou na mira da corporação por causa de sua relação com Bruno Calixta, o Boy, integrante do PCC e principal alvo da investigação ao lado de Gabriel Martinez Souza, o Fant.
“Todo o vínculo de Claudio com Boy, este claramente ligado ao tráfico internacional de drogas e suposto integrante da facção criminosa PCC, traz à baila a possível ligação do candidato com a facção, demonstrando a inserção do crime organizado na política e órgãos públicos da baixada santista”, diz a PF em representação à justiça.
Em outro trecho do documento, a corporação define a situação como “preocupante” e diz que a proximidade do PCC com alguém politicamente exposto reflete na sociedade porque, ao invés de a facção ser combatida pelo Estado, ela estaria integrando-o.
“Isto denota uma possível inserção do crime organizado na política e órgãos públicos, elevando o grau de periculosidade da organização criminosa à sociedade, vez que, ao invés de ser combatida pelo Estado, integra-o, contamina-o e a a utilizar a máquina pública em favor de seus objetivos espúrios, nos moldes das mais antigas e conhecidas máfias europeia”, afirma a PF.
A corporação diz que foi a quebra de sigilo de Bruno Calixta, o Boy, que possibilitou identificar um vínculo entre os dois. A PF diz que seria pouco “crível” que Cláudio desconhecesse as atividades ilícitas de Boy.
Boy e o político aparecem em uma conversa sobre o suposto sumiço de um carro em uma comunidade. Ao responder para o integrante do PCC, Cláudio diz ser “mais bandido que ele 50 vezes”. O “ele” seria uma pessoa de nome Clebinho.
“Brunão, a gente tem que manter ele bem longe, ele não vê a gente como parceiro não, pô! Ele vê a gente como trouxa, porque ele pensa que eu sou boy, que eu nasci na praia… Mal sabe ele que a gente é mais bandido que ele 50 vezes”, diz trecho da conversa citado pela PF.
Os agentes ainda citam, para comprovar a proximidade de ambos, viagem a Brasília para visitar órgãos oficiais juntos.
“Tal fala [sobre ser mais bandido], somada ao estreito vínculo com conhecido integrante de facção criminosa, o qual trata Cláudio como ‘irmão’, traz fortes suspeitas da ligação do candidato com a facção criminosa da qual Boy faz parte”, diz a PF.

Como mostrou a coluna, depois da divulgação das reportagens sobre o caso, o Partido Novo acionou a Comissão de Ética Partidária para apurar os fatos que envolvem o filiado à sigla.
Em nota enviada à coluna, o partido disse que repudia qualquer “desvio de conduta, prática irregular ou falta de transparência por parte de seus filiados, reafirmando seu compromisso intransigente com a ética, a integridade e as normas internas de compliance”.
Operação Emergentes
A investigação conduzida no âmbito da operação Emergentes, da PF, apura os crimes de organização e associação criminosa para o tráfico internacional de drogas e lavagem de dinheiro.
As informações que desembocaram na Emergentes vieram a partir da análise de materiais apreendidos em outras duas operações, a Sólis e a Morgan. Como o volume de dados era grande e havia muitos investigados, a corporação pediu que a investigação fosse desmembrada.
Foram analisados relatórios de inteligência financeira, dados obtidos por meio da quebra de sigilo telemático e foram realizadas pesquisas em bancos de dados para aprofundar a apuração.
Segundo a PF, foi isso que confirmou “toda a hipótese criminal, demonstrando-se, cabalmente, a existência de um associação, estável e permanente, para o tráfico internacional de drogas e condutas típicas de lavagem de capitais na transação de valores oriundos do tráfico”.
Ainda segundo os agentes, ficou “evidente” que alguns dos investigados integrariam o PCC.
A coluna entrou em contato com Claudio, mas não obteve retorno