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Meu paraíso tem nome, dois nomes, Yasujiro Ozu e Lucio Costa

Há em Lucio e em Ozu um desejo exorbitante da beleza desprovida de qualquer excesso, uma recusa absoluta ao supérfluo

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Cena do filme "Early Summer", de Yasujiro Ozu, 1951
1 de 1 Cena do filme "Early Summer", de Yasujiro Ozu, 1951 - Foto: Reprodução

Dois homens do século 20, um japonês e um brasileiro, nascidos com um ano de diferença: Lucio em 1902; Ozu, em 1903. O primeiro na França, filho de brasileiros, registrado como brasileiro; o segundo, no Japão. Em tempos tão terríveis, me apego com gosto e gozo a esses dois criadores fenomenais.

O primeiro fica na tela da tevê, nas imagens perfeitas dos filmes desse que um dos maiores cineastas de todos os tempos. Pra mim, o maior. Já tinha visto um ou outro filme dele, mas agora, nas longas horas de solidão e trabalho, leitura e café, Ozu é um Sol saindo de dentro da tevê.

Vejo neles uma fé no que há de urbanamente belo no viver e conviver. Ozu, na paisagem modesta dos bairros pobres do Japão. Lucio, na busca por um modo de morar urbano e verdadeiramente brasileiro (se ele consegue ou não, é outra história).

Há nos dois, em Lucio e Ozu, certa inocência desfeita e sempre refeita, num movimento pendular que os move e que surge como cinema ou como arquitetura e pensamento arquitetônico — há neles uma placidez de uma casa dormindo.

É de Lucio Costa, meu biografado, de quem estou mais próxima, é claro. A dedicação intensa à vida de uma pessoa vai abrindo um estado de consciência alterado, como quando se está apaixonado. E paixão é coisa que cansa, nos deixa fisicamente exauridos.

Depois de três ou quatro horas de trabalho, sinto um fundo cansaço amoroso. É quase um burnout com sinal contrário: uma exaustão que não me esvazia, me enche, tanto e tanto que preciso parar e esperar que os estímulos se aquietem dentro de mim.

Conviver com o intensamente verdadeiro dá nisso. Tudo é de verdade em Lucio, de uma honestidade intelectual irável, e sem ranço. Aquele senhorzinho afundado numa velha cadeira não me engana mais – às vezes é de uma ironia cortante, outra de uma dureza implacável, formulada em raciocínios impecavelmente lógicos.

Lucio é utópico, só podia ser. Acreditava, piamente, que a revolução industrial estava fadada a multiplicar os pães, a facilitar a vida dos mais pobres, posto que as máquinas teriam a capacidade (e teriam mesmo) de distribuir confortos aos modos de morar e viver das populações mais carentes.

Lucio sonhava tanto que teve o enlevo paciente de propor, em texto para uma conferência da Unesco em 1952, que se criassem brinquedos de montar (tipo Lego) para as crianças conhecerem o que é uma cidade moderna, e dentro dela, uma unidade de habitação (como as das superquadras de Brasília).

“Desse modo, em vez de se embrutecerem precocemente com os odiosos brinquedos bélicos, as crianças se habituariam desde cedo a conceber a cidade e o lar de outra maneira, já naturalmente integrados no verdadeiro espírito moderno da idade industrial.”

Há em Lucio e em Ozu um desejo exorbitante da beleza desprovida de qualquer excesso, uma recusa absoluta ao supérfluo, ao desnecessário, uma busca pelo essencial, um humanismo que parece ter ficado pra trás. É revigorante conviver virtual e verdadeiramente com esses dois criadores e pensadores do século 20, tão distantes e tão próximos um do outro (e de mim).

* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.

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