Filipe Assis revela detalhes da exposição ABERTO4 que movimenta Paris
Idealizador da plataforma ABERTO, o consultor de arte Filipe Assis compartilha o processo de desenvolvimento da exposição ABERTO4, em Paris
atualizado
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Quando fundou a plataforma inovadora ABERTO em 2021, o consultor de arte Filipe Assis tinha por objetivo difundir a arte, o design e a arquitetura do Brasil em espaços modernistas icônicos tanto dentro da fronteira verde-amarela quanto além dela. Se um dos objetivos era internacionalizar as criações artísticas que carregam o “selo” brasileiro, o idealizador da iniciativa a a concretizar esse propósito em Paris, na França, com o lançamento da exposição ABERTO4, na Maison La Roche, nessa terça-feira (13/5).
À coluna Claudia Meireles, Filipe — que também é curador da mostra — compartilha que a ABERTO “nasceu com o objetivo de promover o diálogo entre arte, design e arquitetura em espaços modernistas de relevância histórica”. E a Maison La Roche oferece essa importância, afinal é um ícone modernista e dispõe do título de Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). A casa parisiense também tem relação intrínseca com o arquiteto Le Corbusier (1887-1965).


ABERTO4
Intitulada ABERTO4 — por ser a quarta edição do projeto —, a exposição celebra o elo entre Le Corbusier e a arquitetura modernista brasileira. Inclusive, esse vínculo foi levado em consideração para a seleção dos artistas da mostra. Os curadores — Filipe Assis, Lauro Cavalcanti, Claudia Moreira Salles e Kiki Mazzucchelli — escolheram 30 nomes que evidenciam em seus trabalhos o expressivo legado deixado pelo arquiteto franco-suíço.
De acordo com o fundador da ABERTO, a seleção dos nomes “partiu da afinidade” entre as pesquisas dos artistas e a arquitetura, as formas e os conceitos que a exposição pretendia explorar. “O objetivo não foi adaptar à força os trabalhos ao tema, mas identificar diálogos já existentes entre as práticas desses artistas e o universo de Le Corbusier — seja pelo uso da cor, das estruturas, da espacialidade ou da ideia de habitação”, detalha o consultor de arte.


Filipe revela que alguns dos artistas foram convidados a criar obras inéditas, mas que respeitassem a própria linguagem e estimulassem novas conexões com o legado do arquiteto franco-suíço e com o espaço, no caso, a Maison La Roche. “Beatriz Milhazes, por exemplo, desenvolveu uma colagem inspirada nas colagens do arquiteto; Luisa Matsushita trabalhou com paletas de cor derivadas de Le Corbusier; e Sandra Cinto criou uma obra site-specific para o local”, cita.
Cerne da exposição, Le Corbusier também aparece como artista. Ao longo da ABERTO4, o público fica frente a frente com pinturas e esculturas que evidenciam a “visão multifacetada” do arquiteto. De 1963, a obra Main Ouverte (Mão Aberta, em tradução livre) compõe a mostra. Outro trabalho dele exposto na Maison La Roche é o quadro batizado de Nature morte Vézelay, de 1939. A criação, inclusive, foi poucas vezes exibida ao público.


“Referência fundamental”
Questionado sobre o porquê de Le Corbusier ser a grande inspiração — e homenageado — da ABERTO4, Filipe Assis explica que o artista é “uma referência fundamental para a arquitetura moderna mundial e, em particular, para o desenvolvimento do modernismo brasileiro.” O consultor de arte destaca que o franco-suíço colaborou no projeto do Ministério da Educação e Saúde do Rio de Janeiro. Outro marco do arquiteto envolveu o contato direto com Lucio Costa e Oscar Niemeyer.
“Para aprofundar esse contexto, convidamos Lauro Cavalcanti, diretor da Casa Roberto Marinho e especialista no tema [Le Corbusier], autor de obras essenciais sobre a arquitetura moderna no Brasil. No núcleo artístico, a curadoria da ABERTO convidou artistas brasileiros contemporâneos a criarem obras inéditas em diálogo com a arquitetura de Le Corbusier e o espaço da Maison La Roche”, relata o curador em conversa com a coluna.


Entrelaçados
Na avaliação de Filipe, tudo se entrelaça na ABERTO4, pois a Fondation Le Corbusier é a responsável pela istração da Maison La Roche. “A casa, originalmente pertencente ao banqueiro suíço Raoul La Roche, foi doada à fundação nos anos 1960, e todas as autorizações para exposição precisaram ser obtidas diretamente com eles”, confidencia. O idealizador da plataforma para difundir a arte brasileira salienta que as tratativas para levar a exposição ao espaço parisiense exigiram os mínimos detalhes.
“A negociação foi extensa e cuidadosa junto à Fondation Le Corbusier. O processo levou meses, mas a proposta de revelar as conexões entre Le Corbusier e o Brasil, tema central da mostra, despertou o interesse da fundação, que acabou aprovando o projeto”, enfatiza. Para Filipe Assis, a plataforma ABERTO ter no portfólio uma exposição na Maison La Roche é “um o importante na internacionalização do projeto”. “Isso amplia o alcance da arte brasileira e fortalece o intercâmbio cultural”, analisa.


“Levar a exposição para a Maison La Roche, em Paris, é uma oportunidade de evidenciar a influência de Le Corbusier sobre nomes como Lucio Costa e Oscar Niemeyer, e como essa influência reverberou no modernismo brasileiro, inclusive nas artes visuais”, endossa. Conforme o consultor de arte, a ABERTO4 integra a Saison Brésil- 2025, um intercâmbio cultural que celebra os 200 anos de relações diplomáticas entre Brasil e França.
“Criar pontes”
Filipe descreve como “oportunidade estratégica” participar do Saison Brésil- 2025. No ponto de vista dele, firmar essa parceria possibilita difundir a cultura brasileira na França, promover um entendimento mais profundo sobre a arte, o design e a arquitetura do Brasil. “Além disso, obtêm destaque as influências mútuas entre as culturas e há a valorização do legado da arquitetura sa no Brasil”, reforça o idealizador da plataforma ABERTO.



Embora a ABERTO mantenha a atuação no Brasil — em São Paulo e em outras cidades —, o fundador da iniciativa ressalta que, simultaneamente, não medirá esforços para consolidar “a presença internacional” do projeto. A princípio, ele almeja fazer edições regulares no exterior. “Estabelecer diálogos com diferentes culturas e contextos arquitetônicos. O objetivo é criar pontes entre o Brasil e o mundo, aproximando o público internacional da produção artística e arquitetônica nacional”, finaliza Filipe.
Exposição
Lançada nessa terça-feira (13/5), a exposição fica aberta ao público até 8 de junho. A seguir, confira a lista das galerias e dos artistas participantes da mostra:
- Galerias: Mendes Wood DF; Almeida & Dale; Mennour; Fortes D’Aloia & Gabriel; Nara Roesler; e Luisa Strina.
- Artistas: Aluísio Carvão; Amilcar de Castro; Anna Maria Maiolino; Antônio Tarsis; Beatriz Milhazes; Cícero Dias; Erika Verzutti; Hélio Oiticica; Juan Araujo; Lais Amaral; Le Corbusier; Liuba Wolf; Luísa Matsushita; Luiz Zerbini; Lygia Clark; Lygia Pape; Marcius Galan; Maria Klabin; Maria Martins; Marina Simão; Mauro Restiffe; Milton Dacosta; Mira Schendel; Roberto Burle-Marx; Sandra Cinto; Sergio Camargo; Sidival Fila; Sonia Gomes; Sophia Loeb; e Tunga.


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