Meteorito comprado em 2011 acaba revelando evidências de água em Marte
Fragmento marciano encontrado no Saara traz pistas sobre a presença de águas termais em Marte há 4,45 bilhões de anos
atualizado
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Quando o colecionador de corpos celestes Jay Piatek adquiriu a rocha Black Beauty em 2011, ele já sabia que ela era um meteorito. Entretanto, o norte-americano não imaginava que ela era uma pedra vinda diretamente de Marte e que traria evidências até então desconhecidas da presença de águas termais no planeta vermelho.
Sob seu brilho opaco preto, escondia-se um registro de bilhões de anos. Uma fatia do meteorito descoberto no Saara Ocidental foi doada à Universidade do Novo México, onde foi identificada como parte da crosta marciana. Em 2020, quando foi analisada a fundo, os pesquisadores descobriram que a rocha era diferente de todas as de sua categoria.
Black Beauty: uma cápsula do tempo de Marte
Batizado oficialmente como Northwest Africa 7034 (NWA 7034), o meteorito de 320 gramas tem composição única. Seus minerais abrangem eras distintas da geologia do planeta vermelho. Estima-se que as camadas mais antigas foram formadas há 4,45 bilhões de anos.
Diferentemente de outros meteoritos de Marte, o NWA 7034 contém até dez vezes mais água em sua estrutura. Análises recentes identificaram inclusões de magnetita em zircões, indicando uma cristalização ocorrida em ambientes hidrotermais. Ou seja: água líquida e quente existia na superfície da Marte quando houve a formação da pedra.
Segundo a análise do meteorito, publicada na revista Earth and Planetary Science Letters em 2020, esses ambientes aquosos podem ter oferecido as condições necessárias para o surgimento da vida, ainda que em formas microscópicas. Embora a teoria de que Marte poderia ter abrigado vida microbiana no ado seja amplamente discutida, a descoberta de água em uma rocha tão antiga torna essa hipótese mais plausível.
A importância das amostras marcianas
Com a descoberta de água em uma era tão remota de Marte, a pesquisa sobre a origem da água no planeta vermelho se torna ainda mais relevante. A composição isotópica do meteorito oferece pistas sobre os processos magmáticos e de troca de fluidos que ocorreram na crosta marciana.
Como acredita-se que Marte não possui placas tectônicas, as composições de solo atuais do planeta devem apresentar uma espécie de continuidade em relação à história revelada pelo NWA 7034. Ao cruzar estes dados, os cientistas esperam ser capazes de entender onde se armazenaram os reservatórios de hidrogênio na crosta marciana.
Marte como um possível berço de vida primitiva
Embora Marte não tenha tectônica de placas, o estudo da água e seus isótopos no meteorito NWA 7034 abre novas possibilidades de pesquisa. O estudo das apatitas presentes na rocha revelou um processo de troca com a água da crosta que pode ter ocorrido há bilhões de anos, oferecendo mais uma pista de que o planeta tinha uma história muito diferente da atual.
Ainda que não se tenha encontrado evidências diretas de vida, a análise do meteorito NWA 7034 confirmou que Marte tinha as condições para abrigar organismos primitivos em seu ado distante.
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