Bolsonaro desautoriza Teich sobre cloroquina: “Eu que vou resolver”
Presidente se embasou em decisão do Conselho Federal de Medicina (CFM), que autorizou médicos a prescreverem o remédio contra a Covid-19
atualizado
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O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) desautorizou o ministro da Saúde, Nelson Teich, de ir contra a sua posição sobre o uso da hidroxicloroquina como tratamento ao novo coronavírus. Durante teleconferência com o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, Bolsonaro sustentou que a decisão cabe unicamente a ele.
“Se o Conselho Federal de Medicina [CFM] disse que pode usar a cloroquina desde os primeiros sintomas, por que o ministro da Saúde vai dizer que é só em casos graves? A regra é essa”, defendeu. O ex-ministro da pasta Luiz Henrique Mandetta deixou o cargo em meio a polêmicas sobre o uso da medicação no tratamento. Recentemente, o maior estudo sobre o assunto, conduzido nos EUA, mostrou que não há eficácia do remédio contra a doença.
No dia 24 de abril, o presidente do CFM, Mauro Luiz Britto Ribeiro, esteve no Palácio do Planalto para levar a posição do conselho ao chefe do Executivo.
“Não é uma recomendação. O Conselho Federal de Medicina não recomenda o uso da hidroxicloroquina, o que nós estamos fazendo é dando ao médico brasileiro o direito de, junto a seu paciente, em decisão compartilhada com seu paciente, utilizar o medicamento. Nós estamos autorizando, não é uma recomendação, isso é muito importante ficar bem claro”, enfatizou o presidente da entidade na saída do encontro.
“Votaram em mim para eu decidir, essa decisão a por mim. Acredito no trabalho dele, mas essa questão eu vou resolver”, disse Bolsonaro, que não tem formação na área médica.
Na terça-feira (14/5), o ministro da Saúde defendeu que pacientes com receita médica para uso da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19 assinassem termo de reconhecimento dos riscos associados ao medicamento, entre eles, aumento nos problemas cardíacos.
“Um alerta importante: a cloroquina é um medicamento com efeitos colaterais. Então, qualquer prescrição deve ser feita com base em avaliação médica. O paciente deve entender os riscos e o ‘termo de consentimento’ antes de iniciar o uso da cloroquina”, escreveu Teich.
Pesquisas sobre eficácia
A maioria dos estudos feitos até o momento com o medicamento não apresentou resultados apontando eficácia contra a doença a Covid-19.
Pesquisas iniciais mostravam uma diminuição no tempo de internação, mas essa informação não foi confirmada por estudos posteriores com um maior grupo focal.
Um dos maiores estudos feitos sobre a eficiência da cloroquina contra o coronavírus, realizado pela Universidade de Columbia, apontou a ineficácia do remédio contra a Covid-19. Os resultados foram publicados na revista científica New England Journal Medicine, em 7 de maio.