Na virada do ano, Brasil tem 737 mil pessoas com vírus ativo, 3ª marca do ranking mundial
A realidade, no entanto, deve ser ainda pior. O país é o centésimo em número de testes por milhão de habitantes
atualizado
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De 26 de fevereiro até agora, são exatamente 308 dias em que o vírus SARS-CoV-2 circula pelos quatro cantos do Brasil. Somente nas últimas 24 horas, foram contabilizados 55.649 contaminados. Enquanto muitos se preparam para encontros entre familiares e amigos durante o Réveillon, os novos casos se somam aos 737.371 brasileiros que arão a virada do ano com o vírus ativo circulando pelo país – quase 4% do total mundial.
Os números fazem parte de levantamento do (M)Dados, núcleo de jornalismo de dados do Metrópoles, com base nas informações do Worldometers, que reúne as estatísticas oficiais divulgadas pelo mundo.
Em índices absolutos, Brasil ocupa o terceiro lugar no número de infectados pela Covid-19 – atrás apenas dos Estados Unidos e da Índia. No entanto, o número por aqui deve ser ainda maior. A quantidade de testes realizados em território nacional é escassa: bem atrás dos já citados, somos o 100º país no que se refere ao cômputo de testes por milhão de habitantes.
“Se olharmos pelo número de casos, que não é tão preciso por conta da queda na testagem, a situação já é preocupante. A quantidade de mortos, dado com um pouco mais de precisão, já mostra que a doença está em avanço claro em todo o país. Se espera, sem dúvidas, um crescimento pronunciado no início de 2021. A lógica é muito simples: quanto mais contato, mais fácil do vírus espalhar”, disse Tarcísio Marciano da Rocha Filho, professor do Instituto de Física da Universidade de Brasília (UnB) e um dos membros de um grupo de pesquisa interdisciplinar entre várias universidades brasileiras que estuda o avanço da Covid-19 no país.
Testagem e rastreamento
O índice de testagem no Brasil está abaixo de alguns países da América do Sul – como Chile, Colômbia e Peru – e muito inferior às taxas de nações desenvolvidas, como Alemanha, Itália, Espanha e Estados Unidos, um dos epicentros da doença. Além disso, também perde neste quesito para Arábia Saudita, Azerbaijão, Israel, Lituânia e Rússia.
O Ministério da Saúde havia prometido, no início da pandemia, aplicar 46,2 milhões de testes PCR na rede pública até o fim deste ano. Mas, até 30 de dezembro, pouco mais de 11 milhões foram feitos. Os rápidos acrescentam 8,7 milhões na conta – um total de 19 milhões, ao todo. Isso significa que apenas 9% da população brasileira sabe, com certeza, se teve ou não contato com o vírus.
Procurado pela reportagem, o Ministério da Saúde não se manifestou até a publicação da matéria. O espaço segue aberto.
Recomendação da OMS
Uma das maneiras de entender se os países estão testando suficientemente, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é observar a parcela de exames que apresenta resultado positivo. Para o órgão, o índice deve estar entre 3% e 12%.
A proporção de testes positivos para Covid-19, dentre os analisados, é denominada positividade, que no Brasil está em 38,19% – o percentual aponta falha na política pública de testagem. Para comparação, a taxa nos Estados Unidos está em 8%, ou seja, dentro da média.
Taxa de transmissão
Dados do Imperial College London sobre a transmissão da Covid-19 no mundo também acendem o alerta. No último boletim, publicado em 26 de dezembro, a taxa de transmissão no Brasil chegou a 0.98, o que indica que, para cada 100 pessoas doentes, outras 98 poderão ser contaminadas.
O índice Rt, desenvolvido pela instituição britânica, é traçado a partir de um modelo matemático que usa o número de mortes confirmadas pela Covid-19 em uma semana para prever quantas pessoas correm o risco de serem infectadas na semana seguinte.