MPRJ vai investigar abuso policial em ação no Complexo do Salgueiro
OAB denunciou que policiais queimaram roupas e invadiram clube para fazer churrasco. PMs começam a ser ouvidos nesta segunda-feira (29/11)
atualizado
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Rio de Janeiro – Acusados de abusos durante a ação no Complexo do Salgueiro que resultou em 10 mortes – nove de suspeitos e um policial -, militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope), tropa de elite da PM, serão ouvidos pelo Ministério Público que atua junto à Auditoria da Justiça Militar.
O MP do Rio de Janeiro vai apurar as denúncias feitas pela Comissão de Direito Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ) e moradores da região conhecida como Palmeira, em São Gonçalo. Segundo a OAB, os agentes usaram um clube no domingo (21/11) para fazer churrasco e tomar cerveja, além de queimar roupas. No dia seguinte, moradores encontraram oito corpos a 500 metros do clube.
Os depoimentos serão colhidos a partir do meio-dia desta segunda-feira (29/11), no Centro da Cidade.
Neste procedimento, o promotor Paulo Roberto Mello Cunha vai investigar apenas as denúncias de abusos contra os militares. A princípio, ele vai ouvir os oito que confessaram ter atirado durante a operação e o comandante do Bope, Paulo Renato Aparecido Siloto. Não está descartada a hipótese de convocar para depor todos os policiais que participaram das operações, pelo menos 75.
A investigação sobre as mortes está sob responsabilidade da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí. A unidade também vai ouvir os agentes.
Na quarta-feira (24/11), a PM enviou à delegacia os oito fuzis usados pelos policiais nos confrontos para serem periciados pelo Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE). O exame de balística será confrontado com laudos do Instituto Médico Legal (IML) que contabilizaram que as vítimas foram atingidas por pelo menos 37 tiros. Não há indício de facadas. O objetivo é saber se houve execuções.
Ações policiais
A operação da PM no Complexo do Salgueiro, formado por seis comunidades às margens da Rodovia Rio-Manilha (BR-101), começou na quinta-feira (18/11), para coibir roubos de cargas por policiais do 7ºBPM (São Gonçalo). Na manhã de sábado (20/11), o sargento Leandro Rumbelsperger da Silva, de 38 anos, foi morto em confronto, e o Bope foi acionado.
Os militares da tropa de elite só deixaram a região no domingo (21/11), sem informar sobre os mortos, e ainda desejaram Feliz Natal aos moradores.
O Complexo do Salgueiro é uma área marcada por ações policiais, como a que resultou no assassinato do menino João Pedro, de 14 anos. Depois da morte do adolescente, em 18 de maio de 2020, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, restringiu as operações em favelas do Rio por causa da pandemia, em junho do ano ado. O plenário da Corte ainda vai decidir se chancela a decisão.