Macron se diz contra acordo Mercosul-UE: “Contraditório e antiquado”
Presidente da França, Emmanuel Macron afirmou que tratado negociado há mais de 20 anos não condiz com política ambiental adotada pelo Brasil
atualizado
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Enviada especial a Dubai* – O presidente da França, Emmanuel Macron, reafirmou neste sábado (2/12) que é contra o acordo de livre comércio negociado entre os blocos Mercosul e União Europeia (UE). Segundo o líder europeu, o tratado é “antiquado” e “contraditório”, porque não condiz com as políticas ambientais defendidas pelo governo brasileiro.
O líder francês é uma das mais importantes vozes contra a ratificação do texto. Neste sábado (2/12), ele teve uma agenda bilateral com o presidente Lula, durante participação dos chefes de estado na Conferência das Nações Unidas para Mudança do Clima (COP28), em Dubai.
No encontro, os dois acertaram uma data para a visita de Macron ao Brasil, agendada para 27 de março de 2024. Horas depois, Macron teceu críticas à proposta em negociação, durante coletiva com a imprensa internacional reunida na conferência.
“Sou contra o acordo Mercosul-UE, porque acho que é completamente contraditório com o que ele [Lula] está fazendo no Brasil e com o que nós estamos fazendo, porque é um acordo que foi negociado há 20 anos, e que tentámos remendar, mas está mal remendado”, frisou.
Ele seguiu: “Adicionamos cláusulas no início para agradar a França, mas não é bom para ninguém, porque não posso pedir aos nossos agricultores, às nossas indústrias, na França e em toda a Europa, que façam esforços, que apliquem novas medidas para descarbonizar, para deixar certos produtos, para depois dizer: ‘Estou removendo todas as tarifas para trazer produtos que não aplicam essas regras'”.
Lula pretende fechar acordo UE-Mercosul até 7 de dezembro
Apesar das críticas, Macron elogiou a atuação de Lula na busca por justiça climática e redução do desmatamento em território brasileiro.
“Lula é visionário, corajoso e há muita sinergia entre nossas estratégias. Eu mesmo irei em março [ao Brasil] e acredito que no combate ao desmatamento, em uma verdadeira política amazônica, nas questões de defesa e interesses econômicos, temos uma agenda bilateral extremamente densa e um alimento de pontos de vista muito grande”.
Zona de livre comércio
O acordo de livre comércio entre os dois blocos está em negociação desde 1999 e foi assinado 20 anos depois, no início da gestão de Jair Bolsonaro (PL). Mas, ainda não foi ratificado e, portanto, não entrou em vigor. Caso seja concluído, o texto criará a maior zona de livre comércio do mundo.
Para que isso ocorra, o texto precisa ser aprovado por parlamentares de todos os países membros dos dois blocos econômicos, além de ar por procedimentos internos de ratificação. A França e a Holanda, por exemplo, tem se posicionado contra a proposta.
Avanço nas negociações
Nas últimas semanas, lideranças dos dois blocos intensificaram as negociações na tentativa de chegar a um acordo até a próxima sexta-feira (7/12), data do encerramento da Presidência brasileira no grupo sul-americano.
Nessa sexta-feira (1º/12), Lula teve reuniões com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e com o primeir0-ministro da Espanha, Pedro Sanchez. Após os encontros, o petista afirmou que eles estão “próximos de fechar o acordo”.
O governo federal acompanha com preocupação os efeitos que o presidente eleito na Argentina, Javier Milei, pode causar ao andamento das negociações após tomar posse, em 10 de dezembro. Milei é contra a integração da Argentina ao grupo e não há confirmação dele no evento do Mercosul, marcado para a próxima quinta-feira (7/12), no Rio de Janeiro.
*Repórter viajou a convite do Instituto Clima e Sociedade