Tão cedo Bolsonaro nomeará o herdeiro dos seus votos
Ele não tem pressa nem razão para se apressar
atualizado
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Muito me engano ou nunca mais ouvi os bolsonaristas clamarem por uma anistia para os coitadinhos que foram ear em Brasília no dia 8 de janeiro de 2023 e acabaram presos e condenados por tentativa de golpe e abolição violenta da democracia.
Tadinhos deles, como a Débora do Batom (“Perdeu, mané”). Essa, pelo menos, foi posta em prisão domiciliar. A anistia tinha um sujeito oculto que dela se beneficiaria, embora negue: Jair Messias Bolsonaro (“Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”).
Como o Supremo Tribunal Federal reagiu com altivez a qualquer tipo de anistia, e como, de lá para cá, a situação de Bolsonaro só fez se agravar, senadores e deputados federais acharam por bem esfriar o assunto. O próprio Bolsonaro não insistiu mais nele.
Bolsonaro tem mais o que fazer. Por exemplo: retardar o desfecho do seu julgamento para ganhar mais alguns meses de liberdade. Por exemplo: cuidar de Eduardo, o Zero Três, agora às voltas com uma investigação sobre seu comportamento nos Estados Unidos.
Em 2018, Bolsonaro candidatou-se a presidente sem acreditar que poderia ser eleito. Como um bom pai, apesar de ser um déspota, seu objetivo era ajudar os filhos em sua carreira política. Uma vez terminada a eleição, iria gozar a vida com Michelle.
Mas Deus quis que ele vencesse – Deus, não, que ele não se mete nas escolhas das suas criaturas. Dotou-as de livre arbítrio. As criaturas deste pedaço de mundo tropical decidiram apostar suas fichas em Bolsonaro – e deu no que vimos. Era um falso messias.
Salvo o imponderável, o julgamento de Bolsonaro deverá ser concluído muito antes do que ele gostaria. Falta-lhe tempo necessário para que arrume a casa antes de ser preso. Bolsonaro corre enquanto a parte de cima da ampulheta se esvazia.
Não renuncia à prerrogativa de ditar o futuro dos seus filhos. A Eduardo está reservado o destino de candidatar-se a presidente em 2026 ou a senador por São Paulo; a Carlos, que detesta política, a candidatar-se ao Senado, mas não pelo Rio, por outro estado.
Caberá a Flávio reeleger-se senador pelo Rio, e a Michelle eleger-se senadora pelo Distrito Federal. Jair Renan poderá se candidatar a deputado federal por Santa Catarina. Bolsonaro insistirá no discurso de que será ele mesmo o candidato à vaga de Lula.
Faz sentido. Ninguém baterá mais à porta de Bolsonaro se ele se apressar em abençoar outro nome para presidente. Apressado come cru ou fica com fome. É Bolsonaro o maior líder da direita no Brasil. É ele que tem votos. É ele que escolherá seu herdeiro.