O governo ensaia uma solução analógica para a anistia aos golpistas
Segue à vista o perigo de uma crise institucional
atualizado
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Agora é tarde, Inês é morta. Ou seja: não adianta mais, já era, é muito tarde para fazer algo a respeito.
A porta para a anistia aos golpistas do 8 de janeiro foi escancarada quando membros do governo e nomes de expressão do PT itiram publicamente ou em conversas reservadas que o assunto poderia ser discutido no Congresso.
Um o em falso. Que ajudou a desatar uma eventual crise institucional. Foi como jogar num palheiro o resto de um cigarro aceso. O fogo alastrou-se. E deputados da própria base do governo sentiram-se à vontade para subscrever o projeto de anistia.
O PL de Bolsonaro conseguiu 262 s para votar o projeto no plenário da Câmara em regime de urgência. Espera-se a volta ao país de Hugo Motta (Republicano-BA), presidente da Câmara, para que ele decida o que fará.
Motta pede socorro. Poderia, sozinho, arquivar o projeto ou deixá-lo mofar em uma gaveta. Mas já anunciou que submeterá o projeto ao exame dos líderes de partidos. Há várias versões do texto do projeto, todas ainda desconhecidas. Valerá qual?
Por ora não se sabe. Nem mesmo os deputados que am o pedido de regime de urgência para a votação direta em plenário, dispensado o parecer de comissões técnicas da Câmara. Tudo isso não parece bizarro? Não lembra de outros tempos?
No ado remoto, o relógio da Câmara foi atrasado em mais de uma hora para que se concluísse uma votação que não poderia ar da meia-noite. O deputado Ulysses Guimarães (MDB), presidente da Constituinte de 1988, um dia observou:
“Se você tem maioria na Câmara, você pode fazer tudo, menos transformar homem em mulher ou mulher em homem”.
Hoje, pode, e Ulysses não viveu para ver.
O governo está atrás de uma solução para ajudar Motta a descascar o indigesto abacaxi da anistia. Como analógico que é, o governo busca uma saída analógica para o ime: ameaça suprimir benesses concedidas a deputados que apoiam o projeto.
Difícil que consiga a retirada de s porque o pedido de votação do projeto foi protocolado. Difícil também que os faça mudar de opinião. O Orçamento Secreto reforçou a autonomia de deputados e senadores. Eles têm dinheiro suficiente para se eleger.
Segue o baile.