HÁ VINTE ANOS – Pequenas, preciosas vinganças (por Tânia Fusco)
Saber que seu ex virou corno é melhor do que orgasmo múltiplo
atualizado
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Tem coisa melhor no mundo do que saber que seu ex, que maltratou muito seu coração, é corno? Mas corno público mesmo. Daqueles que os amigos sabem, os adversários comemoram, os parentes têm até pena. E, melhor ainda, todos riem (ou têm vontade de rir) quando ele aparece em público, altaneiro, com ela, a vingadora de todas as desditas que ele já lhe fez ar.
Impossível não ter simpatia e torcer por essa figura histórica — ela, aquela que coroou publicamente a cabeça dele. Não importa se ela é mais bonita, mais jovem, mais charmosa, mais elegante, mais rica, porque nada disso vai doer. A vingada não vai medir mais nada dessa sucessora. Nem se ela, a heroína, é mais burra, ou mais feia, ou qualquer outra coisa que, em circunstâncias normais, contariam pontos a favor ou contra.
Importa é que ela foi lá e meteu-lhe um chapéu de vaca. É essa a alegria. Tem coisa melhor para quebrar uma soberba, abalar uma vaidade, do que um corno de conhecimento geral? (Até porque, corno sigiloso não vale.) Não tem. Porque, entre nós latinos, o corno é a condecoração mais dolorida. Se o cara tiver mais de 40, então… um…
Ele pode até engolir, sublimar, fazer-se de moderno ou superior, mas não vai esquecer nunca. E vai se sentir muiiiiiiiito malzinho, desconfortável, humilhado cada vez que lembrar. Saber disso é um prazer da qual ex nenhuma abre mão.
Todo o ser humano – até os que têm grandeza – saboreia, degusta com muito prazer, as vinganças. Particularmente aquelas que acontecem sem que você tenha mexido uma palha. São as melhores. Foi mão de Deus – Ele reconheceu que aquele ali merecia uma bela porradinha e na seara que mais lhe afeta: o orgulho de macho. Não tem quem não festeje esse prazer.
As latinas normais, cristãs, ainda que não praticantes, não têm peito para desejar grandes desditas ao ex, por mais escroto ou cruel que ele tenha sido. Não dá para desejar a morte, a perda de tudo, etc. Porque, entre outras coisas, a gente tem medo do castigo por tamanha maldade. Afinal é público, notório e ancestral que a gente é mais apetrechada, ou melhor treinada, para assimilar e superar eventuais corneadas ao longo da vida. Assim, não fica nem bem reagir com tanto ódio.
Daí, poucas vão ao extremo de rogar pragas tão violentas. Mas ali, com ar de elegante, vamos esperando que o tempo e, principalmente, a tal da providência divina nos dê a alegria da vingança. Quando ela acontece… há! Quando ela acontece o prazer extrapola qualquer resquício de controle, modernidade ou a tal elegância politicamente correta.
Saber que o ex é corno é melhor do que orgasmos múltiplos. Na verdade, é um orgasmo prolongado. Dura dias, meses. Faz a gente ficar com cara de quem viu Deus cada vez que lembra do “causo”. Não dá para segurar aquele risinho cínico de puríssimo prazer.
Ex corno é tão bom, mas tão bom, que nos próximos meses nada vai lhe tirar aquele estado de graça, aquela sensação de que a vida vale a pena. Tem coisa melhor do que isso?
(Publicado aqui em 23 de maio de 2005)